Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

sexta-feira, 3 de junho de 2022

O juazeiro do Cocó

 O juazeiro do Cocó

quarta-feira, 25 de maio 2022

FLÁVIO BARRETO

Engenheiro Agrônomo

Membro Titular da Academia

Brasileira de Ciências Agrárias.


Há 16 anos, o então estudante de biologia Marcelo Freire Moro fez um inventário das árvores existentes nos espaços públicos dos bairros Benfica e Jardim América, em Fortaleza, catalogando 2.075 indivíduos amostrados. Descobriu que a grande maioria era exótica, ou seja, trazida de fora do Brasil, desvalorizando, portanto, nossa flora nativa, onde se destacam a Pitombeira (Talisia esculenta), o Ipê-roxo (Handroanthus impetiginosus), o Ipê-amarelo-do-cerrado (Tabebuia aurea), o Ipê-branco (Tabebuia roseoalba), o Pau-branco (Auxemma oncocalyx), a Oiticica (Licania rigida), o Oiti (Licania tomentosa) – esta última uma das poucas árvores nativas ainda abundantes em algumas vias de Fortaleza – , o Joazeiro (Ziziphus joazeiro), que dá ótima sombra e frutos que alimentam as aves, mas é muito rara, e a Carnaúba (Copernicia prunifera), a árvore-símbolo do Ceará, de acordo com o Decreto nº 27.413/2004, do então governador Lúcio Alcântara.

Frondoso e ostentando um verde escuro em suas folhas protegidas por espinhos, tendo na sequência duas emergentes mudas, assim está enraizado e já crescido um pé de juá (joazeiro ou juazeiro) no canteiro central da Av. Washington Soares, no cruzamento com a Av. Padre Antônio Tomás, no Cocó.

Árvore cantada por Luiz Gonzaga, respeitada e símbolo do sertão, o juazeiro cresce lentamente, e vive mais de 100 anos. Serve de alimento para o gado na seca, fornece frutos para alimentação humana, medicamento e madeira muito durável, casca rica em saponina, mas se destaca pela persistência em manter sua folhagem a dar sombra aos animais e também ao sertanejo, notadamente no período seco, nosso verão, quando a caatinga se despe e dorme para assegurar o verdume que a chuva trará no ano seguinte. Aqui na capital, ofertará sua permanente sombra.

Nas festas anuais das árvores sempre são lembrados o Decreto nº 27.413/2004 e a Lei Estadual nº 16.002/2016, cuja Instrução Normativa lista espécies nativas para florestar e reflorestar o Ceará. Louvemos, pois, o trabalho da Secretaria do Meio Ambiente do Estado (SEMA), que, plantando e incentivando a formação de florestas naturais, valoriza e renova nossa flora.

Merecem aplausos, além da SEMA, as empresas privadas que participam do plantio de milhares de espécies próprias do semiárido nordestino, ora em curso; a lamentar a infeliz escolha do povoamento de plantas invasoras, por aqueles que teimam em não abolir a condenável prática, apesar da lei e do decreto citados.

Independentemente desses dois dispositivos legais e das novas iniciativas, a realidade é vista a olho nu até pelos indiferentes à questão. Quem não gosta de contemplar uma avenida com o canteiro central linearmente arborizado com carnaubeiras? E suas vantagens traduzidas na beleza das copas, na harmonia das fileiras, no verde intenso, na pouca sujeira produzida e na resistência às estiagens?

Temos um exemplo, ou um campo de demonstração, ao contemplarmos as palmeiras imperiais, plantas exóticas, quando comparadas às viçosas carnaubeiras no entorno do Centro de Eventos. O registro está feito. Que vença a compreensão da importância simbiótica do trinômio árvore – meio urbano – homem.
E que a zelosa manutenção da nossa flora tenha o afinado olhar técnico dos engenheiros agrônomos, dos governos estadual e municipais e da população, a grande beneficiada.


link original no O ESTADO

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