Sou de um tempo em que o Domingo era dia de praia, de futebol e de missa. Não nos preocupávamos se Deus existia ou não; podíamos não tomar banho no mar; não entender nadinha de futebol, nem ter um time preferido. Mas não importava, não importava mesmo! Gostávamos mesmo era da farra, da paquera, da fofoca- queríamos ver e ser vistos, afinal, éramos jovens e gostávamos de nos exibir! Era o nosso jeito de ficar juntos, o nosso jeito de ser gente, fora de casa e do colégio. E a tremida hora do apelo à permissão dos nossos pais -“mas, vai todo mundo!”, quando o “todo mundo” era sempre alguém por quem estávamos apaixonados! Quem, do nosso tempo, não ficava com ódio dos amigos do nosso paquerinha, quando chegavam com a sentença, a nos deixar sempre em segundo plano -“bora bater um rachinha no campim”? Havia times de tudo que era jeito: da rua, do bairro, do colégio, dos clubes, além dos grandes times. Era também para isto que serviam os quintais e as calçadas largas! E ali estávamos nós, a torcer pelos nossos namorados, um bando de pernas de pau, que se exibiam para nós, como se fossem autênticos gladiadores romanos! Mas os hábitos mudam, como mudam! Hoje, o Domingo é um dia como outro qualquer, tornou-se mais um dia “útil”! Como mudaram? Espalharam que o sol nos faz mal! Como é que o sol pode fazer mal a nós, por exemplo, cearenses, que crescemos com o sol tinindo sobre as nossas cabeças, bisnetos de gentes que viviam igualmente a peito aberto, os “índios” e os “pretos”? Pode, sim, o sol pode fazer mal! Desde que se tranquem, quero dizer, morem em condomínios fechados, andem em carros com películas escuras e ar condicionado, estudem em escolas escuras, divirtam-se em shoppings centers e play todos os jogos no computador ou nos telefones móveis ou nos Xbox 360. Quando tudo isto se efetivou para as novas gerações, quando o jogar se transformou em play, elas perderam o hábito de andar sob o sol. Mas, enquanto isso, a nossa orla marítima se entope de complexos turísticos internacionais para os “estrangeiros”, atrás dum pouquinho de sol (entre outros!...). Como o dinheiro se transformou na chave do paraíso, no deus que liga e desliga as mercadorias na terra e no céu, o templo a ele adequado são mesmo as catedrais do consumo. Restou só o futebol! –“E o futebol?”, indaguei outro dia ao meu pequeno sobrinho-neto. –“Qual futebol, o da Fifa?”, respondeu ele. –“Não, aquele, o do campim, o dos quintais, o do terreno baldio, o da rua de terra batida, que se joga só de calção, descalço, com qualquer bola, bola de meia!”, respondi. –“Peraí, tia, vou olhar no Google!”...
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