Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

quinta-feira, 11 de março de 2021

instalação” A VALE AVACA E A PENA, completa 25 anos

 Domingo passado (7-12-2021), no programa “Fantástico” da TV Globo, o município da Serra, na Grande Vitória, ES, foi apontado como um dos 10 mais poluídos do Brasil.

Este ano, em 17 de março de 2021, nossa “instalação” A VALE A VACA E A PENA, completa 25 anos. ¼ de século! 

A VALE A VACA E A PENA - Antecedentes

Este projeto consistiu inicialmente em colocarmos telas virgens e brancas na posição horizontal sobre uma mesa, na varanda coberta do nosso ateliê, localizado na Prainha em Vila Velha. Usando apenas a poeira que se depositou sobre elas, ao longo de 50 dias, realizamos ali desenhos relativos à poluição atmosférica. Isto foi feito de 1997 a 2001, no mesmo período, de 17 de março a 6 de maio, com os mesmos procedimentos, materiais, lugar, posição e dimensão das telas. Procuramos controlar o maior número de fatores para possibilitar uma comparação dos resultados, ano a ano. Em 5 anos, produzimos 20 telas, doadas à Casa da Memória de V. Velha.

Nesse período, sem apoio ou patrocínio, realizamos: instalações, performances, teatro, música, declamações, vídeos, panfletos e exposições itinerantes das telas desenhadas com a poeira. Várias escolas nos visitaram e fomos atração nas últimas Festas da Penha. Mais de 200 mil pessoas viram a exposição permanente, ao longo desses anos.
A Vale é um marco na economia capixaba, antes “lugar de toda pobreza” (nome de um vídeo de Amilton de Almeida). Possibilitou um crescimento vertiginoso da nossa economia e minimizou as consequências do êxodo rural, com a falência da cafeicultura no ES, Minas, Norte-Fluminense e com a quebra do cacau na Bahia. Entretanto, não é justo que capixabas paguem preço tão alto, quando existe solução técnica, e a empresa tem alcançado lucros extraordinários. Que o governo, em vez de exigir civilidade, possibilite continuamente a expansão das empresas que não resolveram os problemas ambientais que criaram, é preocupante.
Durante Audiência Pública na CMV, em 1998, técnicos de grandes empresas minimizaram a presença do ferro na poeira da Grande Vitória. A vilã apontada por eles foi a construção civil. Moradores das ilhas (Frade e Boi) que recebem em suas casas uma enorme quantidade de poeira reagiram lembrando a direção e o sentido do vento predominante, a cor e a cintilação das partículas, típicas do minério de ferro e a localização das ilhas. Como um dos palestrante questionou a composição da poeira fixada nas telas do projeto A VALE, A VACA E A PENA, ali em exposição, sugeri uma experiência simples: juntar sobre uma folha de papel um pouco da poeira que chega às casas; pegar um imã (desses que enfeitam geladeiras) e observar o que acontece ao esfregá-lo sob o papel.
Três elementos (ferro, níquel, cobalto) e alguns óxidos ferrosos são atraídos por imã. No ES não há registro de empresas que manipulem volumes significativos de níquel ou cobalto, mas minério de ferro e ferro rolam em quantidades impressionantes e com alto grau de pureza, na região da Ponta de Tubarão. Sabemos que o vento predominante na GV é o Nordeste e que é ele quem traz a sujeira. Inevitavelmente, antes de chegar até nossas casas, o vento nordeste passa pela região de Tubarão e aí arrasta o “pó preto” para sujar nossas cidades, causando problemas em equipamentos e prejudicando nossa saúde (siderose). Além das partículas sólidas que podemos observar, traz gases de difícil percepção para cidadãos desamparados.
Jornais publicaram balanços fantásticos das grandes empresas ligadas ao ferro, notadamente da Vale após a privatização. Seu lucro anual já é próximo ao preço total pago por ela. Por sua grande participação no mercado mundial do aço, o desempenho da Vale é importantíssimo para a economia local e global, na geração de riqueza e na aceleração do nosso crescimento econômico. Apostei na sua privatização, julgando que não era confiável o governo fiscalizar suas próprias empresas e que haveria uma face para corar de vergonha com a poluição. Errei!
Participando de manifestações e observando a expansão das empresas poluidoras, sendo autorizada antes de resolverem os problemas que geraram, ainda acredito numa Solução Legal. O eleitor está cada vez mais consciente e não quer mais do mesmo.
Precisamos que o Governo patrocine e as Universidades realizem pesquisas sérias e independentes. Pesquisas que não sejam financiadas pelas poluidoras, que sirvam de referência para laudos médicos e técnicos. Só assim poderão subsidiar a Justiça nas demandas propostas por quem se sente prejudicado pelas empresas, que por deficiências técnicas ou ganância irresponsável não controlam a poluição.
Na hora em que as indenizações pipocarem alcançando valores significativos, uma equação econômica vai sensibilizar acionistas e sinalizar para investimentos na área de controle da poluição. Sejamos realistas: esse procedimento é uma linguagem que toda S/A entende.

Texto publicado em abril de 2003, antes do Governo Paulo Hartung autorizar a construção da gigante, maior de todas, a Usina 8, da Vale, em Tubarão.

Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com

Obs. Este texto tem 18 anos (2003). O problema persiste.

Vídeo de 3 minutos gravado em 1998, segundo ano do nosso projeto. Clique aqui: https://www.youtube.com/watch?time_continue=9&v=m0i3rDdtSpw

FAVOR REPASSAR PARA AMIGOS. Grato, Kleber

 

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