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Vicente Alencar

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Torcer por quem? Por Tales de Sá Cavalcante

 Edição 11 de fevereiro de 2021 ARTIGOS • Opinião

Torcer por quem?

Por 
Tales de Sá Cavalcante Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito Tales de Sá Cavalcante Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito

Era um sábado. A contrariar Vinicius em "O dia da criação", o bar do Zé não estava repleto de homens vazios. Só Manoel e Luís, dois clientes habituais, e o Filósofo, possuidor desse apelido por seus inteligentes comentários à mesa do bar.

Como este articulista, Manoel torcia pelo Ferroviário desde a época da RVC (Rede de Viação Cearense), patrocinadora do Ferrim. Ele narrava fato ocorrido numa antiga decisão em que seu time precisava ganhar para ser campeão e o Ceará jogava pelo empate para obter o título.

Findo o 1º tempo, Manoel, revoltado com a apatia de seu clube, foi tomar a tradicional geladinha e encontrou o amigo Leopoldo, também fã do Ferrim, que indagou: "Viu aí o que é um time cadenciado?" O Filósofo comentou: "O julgamento do torcedor pela emoção e não pela razão revela que não se deve discutir futebol."

Ao mudar de assunto, Luís falou sobre Sapiens: uma breve história da humanidade, quando seu autor, Yuval Harari, destaca que "a era moderna testemunhou a ascensão de uma série de religiões baseadas em leis naturais, como o liberalismo, o comunismo, o capitalismo, o nacionalismo e o nazismo".

O fervoroso cristão Manoel bateu na mesa, preciosa pelos líquidos que ali estavam, e vociferou: "Não admito que você chame o comunismo de religião." Mais uma vez, o "Sócrates" do bar do Zé interveio: "Não se deve discutir também religião."

O assunto passou a ser a eleição para síndico do condomínio onde moravam os três. Sob os olhares do Filósofo, Manoel e Luís se exaltaram e quase romperam a longa amizade, pois um defendia calorosamente um candidato, e outro, o opositor.

O Filósofo mostrou-lhes foto de faixa de recente protesto nos EUA onde se lia "Parem de odiar uns aos outros por discordarem" e declarou: "Não falarei o que esperam que eu diga. Desta vez, usarei a interrogação. Vocês não acham que deveriam ser torcedores fanáticos pelo condomínio e não por um candidato?"

Ambos reconheceram a sabedoria do Filósofo e a isso fizeram um brinde, que foi seguido por mais uma pergunta do sábio do bar: "E se o condomínio for sua cidade, seu Estado ou seu país, haverá brinde?"

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