ALYSSON PAOLINELLI E A ESPERANÇA DO NOBEL BRASILEIRO
É através da agricultura que vemos reacender a esperança de um Prêmio Nobel ser finalmente concedido a um brasileiro
17 de fevereiro de 2021
Divulgação - Artigo escrito por Maurício Antônio Lopes, pesquisador da Embrapa
O Prêmio Nobel é uma das condecorações de maior prestígio em todo o mundo, fruto de decisão do sueco Alfred Nobel, de que a maior parte da sua fortuna deveria ser destinada a reconhecer anualmente pessoas e organizações com contribuições destacadas à humanidade. A primeira premiação aconteceu em dezembro de 1901, cinco anos após sua morte, reconhecendo progressos na Física, Química, Fisiologia ou Medicina, Literatura e Paz. Em 1969 um outro prêmio na área de Ciências Econômicas foi estabelecido e passou a ser apresentado na cerimônia anual do prêmio.
Vários brasileiros foram lembrados através dos anos no concorrido processo de escolha dos agraciados. Apesar do país ter estado constantemente na lista dos favoritos pela sua rica literatura, com gigantes como Carlos Drummond de Andrade e Jorge Amado, foi na física que um brasileiro esteve muito próximo de arrebatar o prêmio. O físico César Lattes participou, aos 23 anos de idade, da descoberta de uma partícula do núcleo dos átomos – o méson pi –, feito que rendeu a Cecil Powell, o autor principal do artigo que descreveu o feito, o Prêmio Nobel de Física, em 1950. Infelizmente, até 1960, o Comitê do Nobel só concedia o prêmio ao líder do grupo de pesquisa.
Além da literatura e da física, o Brasil foi também lembrado através da agricultura, com a agrônoma de origem tcheca, naturalizada brasileira, Johanna Dobereiner, indicada ao Prêmio Nobel de Química, em 1997, pelas suas contribuições ao desenvolvimento da agricultura tropical e à segurança alimentar global. Como pesquisadora da Embrapa, ela se dedicou ao estudo de bactérias capazes de captar o nitrogênio do ar e transformá-lo em compostos assimiláveis pelas plantas. Seus estudos permitiram a substituição de adubos químicos nitrogenados nas lavouras, com enormes impactos econômicos e ambientais.
E é através da agricultura que vemos reacender a esperança de um Prêmio Nobel ser finalmente concedido a um brasileiro. O agrônomo mineiro Alysson Paolinelli, nosso Ministro da Agricultura entre 1974 e 1979, considerado o pai da moderna agricultura brasileira, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 2021. Caso esse sonho se concretize, Paolinelli terá seguido trajetória semelhante à de outro agrônomo ilustre, Norman Borlaug – Prêmio Nobel da Paz em 1970, principal responsável pela “Revolução Verde”, que na segunda metade do século XX impulsionou a produção de alimentos pela introdução de variedades e práticas agrícolas modernas, que eliminaram o espectro da fome para milhões de pessoas em todo o mundo.
Borlaug, falecido em 2009, visitou o Brasil diversas vezes e se maravilhou com a revolução agrícola iniciada aqui por Paolinelli, nos anos 1970. Em suas andanças pelo mundo ele não se cansava de dizer que via o Brasil como o palco da segunda “Revolução Verde” da humanidade, em especial pela transformação dos Cerrados, com seus solos improdutivos, pobres e ácidos, em uma das mais pujantes áreas agrícolas mundo. Alysson Paolinelli foi um dos principais arquitetos dessa transformação, promovendo, enquanto Ministro da Agricultura, a expansão e o fortalecimento da pesquisa agropecuária e a disseminação de conhecimento e tecnologias adaptados aos trópicos, através da Embrapa, da Embrater e das universidades agrárias.
Um visionário, Paolinelli percebeu que um país continental como o Brasil demandava arrojados investimentos em expansão e modernização agrícola e que a superação dos nossos desafios se daria mais rapidamente com instituições fortalecidas, formação de recursos humanos, políticas públicas ousadas e cooperação internacional. A Revolução Agrícola lançada e liderada por ele produziu frutos extraordinários em pouco mais de quatro décadas. O Brasil dos anos 70, marcado pela insegurança alimentar, obrigado a comprar lá fora um terço dos alimentos de que precisava, se tornou um grande provedor de alimentos para o mundo, exportando para mais de 150 países e reduzindo quase à metade o custo da alimentação no orçamento dos brasileiros.
Aos 84 anos Paolinelli segue mais ativo que nunca, colocando toda a sua experiência a serviço de mais uma grande revolução, centrada na ampliação do conhecimento dos biomas tropicais e no desenvolvimento de soluções tecnológicas que nos permitam usar os recursos naturais de forma inteligente e durável. Durável a ponto de alcançarmos 2050 capazes de atender sem apertos às projeções de crescimento na demanda global de alimentos. Uma revolução que já rende frutos e promete ampliar o protagonismo e a visibilidade do Brasil como promotor da segurança alimentar global, contribuindo ainda para a mitigação dos males ambientais que ameaçam o nosso futuro.
Ao lembrar sua extraordinária trajetória, Paolinelli costuma dizer que “o interior do Brasil já foi conhecido como ‘terras-de-fazer-longe’, ou terras que mais serviam para aumentar distâncias que para produzir progresso”. É seu jeito de lembrar o Brasil de pouco mais de quatro décadas atrás, país continental onde colocar comida na mesa custava perto de 45% da renda das famílias. Faz, portanto, todo sentido que o nosso agrônomo mais ilustre, unanimemente reconhecido pelas extraordinárias contribuições à segurança alimentar global, seja um forte concorrente ao Prêmio Nobel da Paz. Como sabiamente confirma um dos líderes da sua indicação, o ex-Ministro Roberto Rodrigues: “Paolinelli é o visionário da maior revolução agrícola tropical sustentável, um grande construtor da paz, pois alimento é paz, sustentabilidade é paz”.
Fonte: Embrapa
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