RADICAIS E MODERADOS
O mundo parece enveredar pela
radicalização. Nacionalismo, separatismos, racismos e fundamentalismos estão
associados ao processo de exaltação de ânimos na Europa, nos EUA e em toda
parte. As redes sociais, os fluxos migratórios, choque cultural e de
civilizações, a indigestão de informações diluviais, crises, guerras ou
iminência de guerras e terrorismo; ao lado de uma transparência que destruiu
líderes, partidos e abalou doutrinas são, ao mesmo tempo, causa e efeito da
intolerância crescente.
A expansão do interesse público ganhou
ares de legitimidade, reforçando o controle da vida privada, com o Direito
Civil sofrendo metamorfose em Direito Público. Só falta obrigar o cidadão a
fazer dieta, caminhar e usar preservativo. Profundas e súbitas transformações
culturais, alcançando os mores, causam violento choque entre os valores do povo
e os pretensos novos gestores da moral, que presumindo-se “politicamente
corretos” pretendem impor novas referências, tornando-as oficiais ou oficiosas,
impondo leis ou exercendo enorme pressão social. Radicais ganham. Moderados
perdem.
No Brasil a radicalização está em curso.
A ilusão de que somos um povo conciliador desapareceu. É importante analisar
ideias, conjunturas e estruturas, mas há momentos em que é preciso fulanizar,
porque a ação social é conduzida por pessoas. Não há história sem sujeito.
Multiplicam-se os candidatos havidos
como moderados. Luciano Huck, Geraldo Alkmin, João Dória, Marina Silva,
Henrique Meirelles e tantos outros disputam o espaço assim considerado,
fragmentando-o, reduzindo suas possibilidades de chegar ao segundo. Os extremos
são favorecidos, tendo cada lado apenas um nome ou eventual substituto designado
pelo líder da tendência, caso este não possa disputar.
O luloismo aposta no discurso da
radicalização apta a captar os votos ideológico, do corporativismo exaltado
pela ameaça de perda de privilégio em face de reformas, das enraivecidas viúvas
do desfrute sem ônus e da ilusão do Estado Papai Noel. Até um nacionalismo
ingênuo que apoia internacionalistas se junta a este grupo. A outra ponta do
espectro político aposta no híbrido de uma vassourada ao modo de Jânio da Silva
Quadros, que venha varrer a corrupção, resultado de um cruzamento com a espada
do adversário do Jânio, o marechal Henrique Batista Duffles Teixeira Lott. Cada
lado com apenas um candidato: Bolsonaro e Lula ou quem este venha a indicar, na
hipótese de não poder concorrer. Cada um concentra todos os votos da respectiva
tendência, fato que os fortalece. Ciro Gomes, com o seu estilo, não concorrerá
com os moderados nem herdará os votos do Lulismo. Tampouco postula os votos
atualmente enamorados por Bolsonaro.
As paixões são inimigas da lucidez.
Passada a eleição o presidencialismo de cooptação vai precisar de uma base no
Congresso. Não se sabe qual será o Parlamento que emergirá das eleições.
Espera-se uma grande renovação de nomes, mas não se sabe se de atitudes. A
vassoura com lâmina de espada ou uma cópia do chavismo se entenderão com o
Legislativo ou continuaremos em crise? Só o tempo sabe a resposta. Todas as
considerações só têm valor se mantidas inalteradas as outras coisas (ceteris
paribus).
Fortaleza, 15 de
novembro de 2017
Rui Martinho Rodrigues
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