O momento é grave. Uma tíbia recuperação
econômica não é suficiente para afastar a múltipla crise. O clientelismo irrita
os brasileiros. A velha corrupção e os privilégios pessoais e corporativos,
típicos da indiferenciação entre a fazenda pública e o patrimônio privado das
autoridades, herança do patrimonialismo, transformou-se na preocupação central
da sociedade. O combate à corrupção é um imperativo moral, legal e econômico. A
Lava Jato deu uma grande contribuição despertando-nos para isso. Os temores de
que o crime triunfe sobre ela está gerando pânico.
Será a corrupção uma espécie de problema
fundamental, do qual dependem todos os outros e que uma vez resolvido os demais
desafios serão superados? Haverá uma solução final para a tradição de
improbidade? A resposta é negativa para ambas as indagações. O marechal
Ferdinand Jean Marie Foch (1851 – 1929), durante uma ofensiva alemã, na IGM,
vendo o seu Estado-Maior em pânico, indagou: do que se trata? A ofensiva
causava baixas e era uma grave ameaça, conforme esperado. Era preciso
identificar prioridades para concentrar os esforços da defesa.
A crise atual tem uma dose de
patrimonialismo, com os privilégios e a corrupção elevada a um novo patamar,
nos últimos quinze anos. É relevante, mas não surpreende. As desventuras
econômicas, porém, decorrem da ideologia do “nacional-desenvolvimentismo”, com
a hipertrofia do estamento burocrático-patrimonial, facilitando a corrupção e o
desperdício, além de fortalecer a ideia dos gastos públicos ilimitados e do
desfrute sem ônus. O paradoxo de um povo que não confia nos políticos, mas
deposita suas esperanças no Estado é o ponto central.
Então do que se trata?
A hegemonia ideológica da deusa Bem-Aventurança, personagem do panteão grego
cuja promessa era oferecer a todos o direito de tudo usar sem despender esforço,
é a questão A deusa Virtude, porém, dizia: não quero oferecer deleites, desejo
apenas mostrar as coisas tais como os deuses as quiseram, conclamando ao
esforço. Deblaterar somente contra a corrupção é isentar a deusa enganadora de
toda a desgraça. A prioridade é para o mal representado pela ilusão do Estado
provedor. É precisar defender os valores da deusa Virtude, contrários aos da
deusa enganadora Bem-Aventurança.
Fortaleza, 13/11/17
Rui
Martinho Rodrigues
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