A
VOZ DAS URNAS
As
eleições francesas, americanas, consultas populares sobre a paz com
as FARC e a saída do Reino Unido da UE (União Europeia)
apresentaram resultados surpreendentes. Partidos tradicionais,
lideranças estabelecidas, ideologias e imprensa apresentam-se
desacreditados. Mais do que isso: o eleitorado votou contra toda esta
lista. Trump não venceu. Quem perdeu foi a grande imprensa
americana, que era toda contra ele; quem perdeu foram os partidos,
inclusive o Republicano, derrotado nas prévias. Na eleição
francesa quem perdeu foram os grandes partidos. Novos líderes e
novas agremiações estão na ordem do dia dos eleitores.
Alguns
rumos temidos também não se confirmaram. O avivamento da paixão
nacionalista, embora forte, não se mostrou dominante. A Frente
Nacional, na França, malgrado tenha tido uma votação sem
precedentes, sofreu uma derrota esmagadora. Trump, nos EUA, venceu,
mas não convenceu, não teve maioria nos votos populares nem tem a
aprovação dos cidadãos para o que está fazendo. Outras eleições
na Europa apresentaram resultados semelhantes aos da eleição
francesa. Partidos, líderes e formadores de opinião perderam o
contato com o público.
O
monopólio da doutrinação ou desinformação foi quebrado. Escolas
e imprensa têm agora a concorrência da internet. A maioria
silenciosa encontrou sua tribuna. A satisfação das aspirações é
inalcançável. Nunca houve tanto conforto material e tanto acesso
aos serviços essenciais, contrariamente ao vaticínio da teoria da
pauperização, mas nunca houve tanta insatisfação.
Câmaras
sempre presentes; registros eletrônicos indeléveis; acordos de
cooperação internacional obrigando os paraísos fiscais prestar
informação sobre transações suspeitas; e o fortalecimento do
direito premial, estimulando a colaboração dos réus, tudo isso
tornou impossível esconder as práticas criminosas. Os políticos,
porém, ainda não entenderam isso. Habituados a um modo de governar
criminoso, agora não sabem o que fazer, nem para escapar à ação
da justiça, nem para continuar na política. Buscam a impunidade,
mas não está fácil destruir a Lava Jato. Buscam legalizar as
práticas delituosas, mas até o constrangimento internacional
obstaculiza este roteiro.
A
democracia, por outro lado, não possui instrumentos legais para se
defender das maiorias criminosas. Este é o impasse.
Rui
Martinho Rodrigues
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