Professor Palhaço
Advogado se veste de palhaço e devolve a autoestima e a alegria a crianças grandes e pequenas
Amanda Munho
Um nariz vermelho e a alma. Com esses dois ingredientes, em poucos segundos, surge o Professor Palhaço. Ele não veste roupas coloridas nem tem pompons na cabeça. O cabelo arrepiado, propositalmente pintado de branco, dá o tom um tanto quanto exótico a Ilan Tchernin Himelfarb. Mas chame-o de palhaço.
Hoje, aos 42 anos, vê que fez bem em largar a advocacia. Por cerca de 15 anos, trabalhou na área de família e, consequentemente, acabava indo um pouco para a criminal. Na maioria dos casos, uma situação se repetia. As crianças sempre eram as mais prejudicadas, independentemente da história. Era preciso fazer algo mais por elas, devolver-lhes um direito: o de sorrir.
- Eu só troquei de direito. E escolhi bem - assegura.
Em 2007, ao caminhar pela Praça da Alfândega, no Centro da Capital, encontrou um vendedor de mágica. Como um truque do mestre que lida com esta arte, Ilan voltou ao passado, quando era aprendiz de Antônio Pivetta, o Palhaço Tampinha. Era isso. Aperfeiçoou a habilidade de tirar moedas de trás de orelhas, de fazer sumir bolinhas vermelhas e multiplicar olhares espantados e bocas abertas. Pronto. O primeiro nome, Presto, veio de um desenho da década de 90, e foi adaptado para Presto Spoletta. A montagem do personagem contou com o olhar e as críticas do filhão Bernardo, hoje com oito anos, e o incentivo da amiga e jornalista Suzana Saratt.
"Crianças não sabem ler. Eu posso ajudar"
Aprendeu que malabares vão muito além de objetos no ar. Adaptou a alegria daquele que arranca risadas no circo e fundiu dois propósitos. Agora, o mágico era também um palhaço. Entrou em colégios como oficineiro e deparou com uma realidade assustadora.
- Na quarta série, crianças não sabem ler. Eu posso ajudar? Posso. Como? Brincando - sorri Ilan.
O método é simples e o verbo incentivar é o que rege a grande atuação daquele que ganhou dos seus alunos o apelido de Professor Palhaço. Desde o início do ano, o mestre em sociologia deu um passo importante. Como voluntário, ministra aulas para as crianças do Centro de Integração Social Ocupacional, o Ciso, uma instituição no Bairro Santa Maria Goretti, que tem como objetivo ser agente de transformação e inclusão de pessoas com necessidades especiais na sociedade.
O que pode ser um mero desafio, como jogar pinos para cima, torna-se uma alavanca para a autoestima.
- Trabalho além da coordenação motora deles. É confiança. Eles confiam nas mãos e acabam confiando neles mesmos. E esse é o primeiro passo - explica o professor.
Se você encontrá-lo nos finais de semana na Redenção, pare, observe e tente imitá-lo, seja com truques de mágica ou com malabarismo de circo. Nunca é tarde para voltar a ser criança.
DIÁRIO GAÚCHO
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