Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

terça-feira, 14 de outubro de 2014

ELIAS VENTURA, SOBREVIVENTE DA FAZENDA PATOS

ELIAS VENTURA: UM SOBREVIVENTE DA FAZENDA PATOS.

jOÃO E ELIAS
    Logo após de a morte de Lampião, no dia 28 de julho de 1938, Corisco que estava sendo aguardado pelo Rei do Cangaço, estando do outro lado do rio, em Alagoas, ouviu o tiroteio e depois confirmou a morte do famoso cangaceiro, através de uma fotografia das cabeças que lhe chegou às mãos através de um coiteiro que havia ido a Piranhas saber se a notícia da morte era verdadeira. Estava confirmado: Lampião morreu mesmo. Corisco ficou arquitetando sua vingança. Por mais que sua imaginaçãobuscasse uma resposta, Domingos Ventura, vaqueiro da fazenda Patos, de propriedade de Antonio Brito, Avô de Cira Brito, esposa do tenente João Bezerra. Alguns depoimentos citam a traição confirmando ser Domingos Ventura, pelo próprio traidor de Lampião: Joca Bernardes. O Joca teria dito a Corisco que Domingos havia traído Lampião. Na verdade ele mesmo, o Joca, havia denunciado que Pedro de Cândido sabia onde Lampião se encontrava acoitado.
Na fazenda Patos o senhor Odon Ventura, filho de Domingos, era grande coiteiro de Lampião. Sua esposa Maria da Glória havia dado a luz ao filho Elias Ventura, dia 20 de julho de 1938 e estava com doze dias de resguardo.   Corisco chegou a fazenda dia 02 de agosto, Guilhermina, esposa de Domingos, foi fazer café para os cangaceiros. Dadá conversava com Maria da Glória quando entrou um cangaceiro que falou:
- o capitão mandou buscar essas duas!
Dadá perguntou:
- buscar pra quê?
- pra matar elas!
- cadê Guilhermina e Valdomira?
- já morreram!
Dadá levantou-se e foi aos fundos da residência. No curral de pedras deparou-se com uma dantesca cena. Ela viu os cangaceiros matarem os inocentes..
No momento foi chegando Domingos Ventura e mais três filhos que estavam todos encourados campeando animais. Corisco deu voz de prisão e sem resistência os cangaceiros prenderampai e filhos. O cangaceiro acusou Domingos de traição e por mais que o velho dissesse que não sabia de nenhuma traição e mesmo assim foram degolados. Os cangaceiros trouxeram Odo E José Ventura e mataram os dois também. Mataram as mulheres Guilhermina e Valdomira.
Corisco mandou pegar Maria da Glória e Carmelita, Dadá ficou estarrecida com a matança e ordenou:
- Quem morreu, morreu, quem não morreu não morre mais. Essas ninguém mata!
Corisco aceitou a ordem da esposa.
Os cangaceirosarmaram uma festa e durante toda noite dançaram ao sabor da velha cachaça, diante de seis corpos inertes, sem cabeças, rios de sangue correndo sob as pedras de um velho curral.
Dia seguinte Corisco mandou por João Crispim, as cabeças endereçadas ao tenente João Bezerra. O prefeitoJoão Correia Brito recebeu o macabro presente e providenciou um enterro cristão para os inocentes.
Maria da Glória, sobrevivente da chacina,pegou seu bebê Elias e junto com Carmelita deixaram aquele palco macabro e foi residir em Água branca, no povoado Boqueirão.
Ainda hoje, naquelas paragens, habita Elias Ventura, sobrevivente da chacina da fazenda Patos. Homem simples, famoso vaqueiro, por tempos atravessou as caatingas, rasgando vestes e carne à procura de animais fugidios, pisando terras ardentes, passos que marcam na areia escaldante do nordeste suas mais tristeslembranças, imagensmanchadas com o sangue que banharam suatrajetória, turvaram de dor o coração de uma criança que escapou a sedede vingança de uma sentença equivocada. Inocentes feridos. Marcas que nunca saem. Eternas feridas expostas na mais profunda caverna da alma.
Conheci Elias Ventura, por anos procurei seu paradeiro, pude partilhar sua dor, ouvir seu lamento, entender o silêncio que por décadas ele se escondeu.
Elias hoje tem 76 anos de idade, homem triste e ao mesmo tempo feliz com a família que constituiu, feliz com os amigos que adquiriu, realizado com sua vida de campo, campeando por longos tempos.
Eu, Genildo Alexandre, Antônio Lira do Ó, Joventino e Aldiro, estivemos com ele.
Seu depoimento é triste. Entre misto de dor e sorrisos, ele fala de sentimentos, da tragédia que abalou sua vida e entre suas palavras sábias observamos seus olhos brilharem e seus olhares se perderem na direçãodas árvores farfalhantes de um dia quente e empoeirado.
Desejo que Elias Ventura seja abençoado sempre, que a felicidade faça morada em seu coração ferido, que sua dor seja amenizada pela promessa da justiça Divina. 
João de Sousa lima
Historiador / Escritor

Membro da SBEC – Sociedade Brasileira de estudos do cangaço
Membro da ALPA- Academia de Letras de Paulo Afonso (cadeira nº 06)
Membro do IGH- - Instituto Geográfico e Histórico de Paulo Afonso.

Paulo Afonso 13 de outubro de 2014.


JOÃO, ELIAS E JOVENTINO

SEU ELIAS SEMPRE BEM VISITADO

GENO, JOÃO, ELIAS, JOVENTINO E ALDIRO







Um comentário:

MARCOS CUPERTINO disse...

Gostaria de conhecê-lo pra lhe da um abraço, sô Elias teria outro destino escrito por Deus !!