À guisa de reflexão
Se o conhecimento prepara para o mundo, a fé dirige para Deus.
O ecumenismo, esse movimento bastante antigo que se encorpa neste século, põe-se como uma faca de dois gumes: é divino lutar por ‘um só rebanho e um só Pastor’, embora Jesus ainda nos informa que “Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco. Preciso conduzi-las também, e ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor” (Jo, 10,16), mas pode também levar à promiscuidade religiosa e mergulhar no sincretismo e autofagia teológica.
Define-se ecumenismo em várias acepções. Elenco apenas duas:
A) Busca da unidade de todos os cristãos. Será possível ou uma quimera?
B) Reunir crenças, mesmo as não-cristãs (práxis, além da teoria).
Todos somos irmãos na humanidade. E divergências entre irmãos são comuns, pela própria estrutura de ‘indivíduo e pessoa’ e pelos conceitos e valores que cada criatura humana, na sua liberdade interior, professa.
É possível unir, sim, mas forma-se uma colcha de pedaços, cada um ‘completo’ na sua inteireza, pois valores e opiniões não se vendem, não se impõem. E toda crença cultiva os princípios de sua fé.
Uma união como água e óleo é possível: água não perde suas características e o óleo não perde sua estrutura básica. Essas estruturas dão força às conjunturas. E entre nossas crenças não há apenas conjuntos disjuntos, mas também conjuntos vazios.
A Eucaristia, centro de nossa fé, não o é para muitos outros cristãos.
O budismo, por exemplo, não alimenta os mesmos princípios de fé do cristianismo e, no próprio cristianismo, há diversidade de valores.
Creio que o acolhimento e a aceitação da diversidade de todas as crenças – cristãs e não-cristãs, ecumenismo ou diálogo inter-religioso – constituem fundamentos de uma convivência harmônica, desde que os fieis não releguem, nem imponham a importância e o valor de suas crenças. Assim, colocar Jesus no mesmo nível de outras teologias é um relativismo que, ao invés de dialogar, deixa-se manipular e termina por negar valor inalienável da Ressurreição.
Sem demérito a nenhum credo, o Cristianismo, com seus valores judaico-cristãos, é o Único cuja raiz é um Deus humanado, que se comunicou com os homens, morreu e ressuscitou. É um Deus pleno de misericórdia, compaixão e amor, todavia, é um Deus ciumento (Ex 34,14) e ‘quem não está com Ele, está contra Ele’, quem não ajunta, dispersa (Mt 12,30). E ninguém vai ao Pai senão por Ele (cfe. Jo 14,6).
Cristãos, católicos, somos claros, firmes e transparentes: nosso Deus é Absoluto e onde reinam o amor e a caridade, Ele aí está.
Tratar bem a diversidade de crenças é caridade. Acolhê-la é amor. Nivelar-se a ela, porém, é negar a divindade de Jesus Cristo.
Ecumenismo não pode ter objetivos de fazer proselitismo, tampouco de afastar pessoas de suas crenças, todavia é oportunidade de testemunhar a fé professada.
União, sim; massificação e alienação, jamais.Amor é testemunho de pensamentos, sentimentos, atitudes e gestos. Não se prende a um ou outro nível, pois é inteiriço no seu entender e abrangente em sua concepção.
Isso posto, olhemos para o Alto e das Alturas baixa um Deus que se faz amor pleno, nas limitações de uma criancinha humana, como a nos demonstrar que quer crescer conosco, sentir nossas dores, compreender nossos sentimentos, aquecer-se nos abraços acolhedores e poder conquistar, com sua pequenez, a grandeza de nossas entranhas. Tão grande o Seu amor, nunca visto em parte alguma, em deus algum. Mas, o amor somente é visível a quem sabe ou busca amar. Para outros, insensatos, torna-se irrisível.
A ordem do mundo abalada foi retomada. O caminho para o bem foi retificado. O sentido da fraternidade foi divinizado. E o viver foi recheado de bênçãos e graças.
A paz espargiu-se “hominibus bonae voluntatis”. Sim, a resposta a este Deus, que se tornou uma criancinha humana, nasce de pessoas de boa vontade, sem acepção de quem quer que seja.
O bem e a fraternidade deixaram de ser apenas conquistas humanas para serem impregnados do Divino e Sagrado.
“O homem não é a medida de todas as coisas”, assim como a justiça e a paz não se esgotam nas contingências humanas, tampouco conformam-se apenas ao grito de ventres vazios.
Aprender a lição do amor implica num olhar para o Alto, que se encontra com o caminhar telúrico.
Deixar-se entranhar da nobreza de Natal requer abertura das ‘pessoas de boa vontade’.
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