Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

A RUA ONDE MORO - Antonio de Albuquerque Sousa Filho

  A RUA ONDE MORO

Antonio de Albuquerque Sousa Filho
(Professor aposentado da UFC)


Estamos completando 50 anos (1972) de vivência, na casa onde moramos. Quando aqui chegamos tudo era diferente. A Construtora Mota Machado havia construído um conjunto de vinte e duas casas, que ocupava uma quadra. As casas apresentavam fachadas diferenciadas, situadas em terrenos de dimensões varias, eram recuadas e possuíam um pequeno quintal. Todas as casas tinham muro baixo na frente, portão para carros, terraços e entrada lateral. Foram construídas com tijolos brancos, cobertura de telhas de barro e/ou amianto, pisos de taco e ladrilho vermelho, portas e janelas de madeiras.

A rua tinha sua pavimentação com pedras toscas, precária iluminação pública, não havia sistema de esgoto público (cada casa tinha uma fossa na parte da frente do terreno), a água encanada não tinha força para subir para as caixas de águas das residências, obrigando a construção de cacimbas nas moradias. A movimentação de veículos na rua era mínima. No entorno das residências não havia serviços médicos, hospitalares, supermercados, farmácias, restaurantes, oficinas de consertos gerais ou postos de serviços públicos. As necessidades mais imediatas, eram cobertas por algumas mercearias.

Na frente de nossa casa, havia um sítio com mangueiras, cajueiros, coqueiros, ateiras e plantio de mandioca. Existia uma casa de taipa, tendo como moradores um casal e cuja mulher vinha vender nas casas frutas tiradas diretamente das fruteiras. A vizinhança costumava ser despertada pelo som de jumentos, galos e galinhas.     

Os vizinhos das casas se conheciam, se visitavam e trocavam favores. As crianças brincavam juntas, jogavam bola na rua e muitos estudavam no mesmo colégio. Vendedores de peixes, de redes, de vassouras, de utensílios caseiros passavam sempre pela rua. A segurança na redondeza não apresentava problemas, mas na maioria das casas haviam cachorros. Os fortes ventos provenientes da brisa da praia do futuro chegavam até as nossas casas (não existia as barreiras dos prédios de apartamentos), proporcionando um clima ameno e agradável.

A  rua foi asfaltada, aumentou substancialmente o movimento de carros, a iluminação pública tornou-se moderna, o sistema de esgotou chegou, assim como a água da CAGECE possibilitou chegar com força nas caixas de água das casas e prédios existentes, a insegurança tornou-se constante, as casas e prédios elevaram seus muros, surgiram hospitais, shoppings, farmácias, escritórios de serviços de saúde, oficinas mecânicas e colégios. O sitio desapareceu, suas árvores foram cortadas e arrancadas, construídos vários edifícios residenciais.

Das vinte e duas residências, resta apenas a nossa casa. As demais construções tornaram-se clinicas médicas, salões de beleza, oficinas mecânicas e alguns prédios residenciais. Sumiram vizinhos, sossego, vendedores de rua (exceto o vendedor de vassouras) e o clima agradável.

Todavia, morar em casa ainda apresenta vantagens, principalmente em tempos de pandemia.

A rua onde moro é a Fonseca Lobo, na Aldeota.

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