UM PÉ NA TERRA, OUTRO AO VENTO, NO ROGO DA CANÇÃO Álbum “Raiz e folha: o cancioneiro de Zeh Gustavo”, de Kell Santos, é lançado com variedade de estilos, inédita de Sérgio Ricardo e ode à música popular brasileiraUm grande dia está chegando: dia 17/11 é o lançamento do primeiro álbum da cantora baiana Kell Santos, intitulado Raiz e folha: o cancioneiro de Zeh Gustavo, nas principais plataformas de música. É a própria Kell, que se radicou durante mais de 30 anos no Rio, no Morro dos Prazeres, até retornar à Bahia, onde mora em Trancoso, quem afirma: “Trata-se do sonho de qualquer cantor ou cantora, e que a gente pensa que nunca vai se realizar, diante das imensas dificuldades que uma mãe preta de família enfrenta para criar seus filhos e ainda fazer sua arte”. O sonho está aí e ele nasce coletivo, com base no trabalho autoral do poeta e sambista Zeh Gustavo e nos arranjos e direção musical primorosos de Daniel Delavusca. Forma-se um trio, a que se juntam convidados e músicos de imenso talento, cuja voz ressoa una e plural num álbum de um cancioneiro próprio e rico, que vai do samba à moda de viola, do baião à valsa, numa autêntica declaração de amor à melhor tradição inventiva da música popular brasileira. O velho disco que se multiplataforma Raiz e folha: o cancioneiro de Zeh Gustavo, álbum de Kell Santos, é encargo de lira, missão de som, ave nervosa sulcando ou alevantando a planta do chão. Reverbera um grito de som fincado nas coisas da terra, na rica e plural tradição musical brasileira que vai do choro ao erudito quebrado, que vibra o baião na cidade, que dança o frevo no campo, que samba o maxixe nos subúrbios que costumam nos gerar as melhores gentes. É música de letra, poema melodioso que se remexe qual pedra doce traçando altos planos no vento que nos acolhe em abraço, como quem insiste em nos dizer: a canção não acabou – a canção jamais acabará. É a volta do velho disco, mas com teor e tino de inovação no mesmo sangue que corria – e, claro, que não escolhe suporte de escuta que não o bom e amigo ouvido sempre atento às nossas brasilidades. Com direito a revivamento da poemaria do Raul Bopp. Com inédita do genial Sérgio Ricardo. Com parcerias mil e unas. Com musicistas estupendos, muitos deles mestres da rua, da guigue, da roda, do ajeito pra sobreviver versando-cantando. Com participações cirurgicamente marcantes de quem continua nosso cancioneiro, na raça: Fabíola Machado, moça muito prosa; Fernanda Magá, de rebolado de gogó matreiro à la Araca; Lúcio Sanfilippo e sua reza-voz em prol da memória de nosso canto fundante maior. Assim que vamos, como e porque viemos. A (en)cantadora... Kell Santos é baiana formada na esquina do samba com o melhor da nossa emepebê. Radicou-se boa parte da vida no Rio, particularmente no morro peculiar de Santa Teresa, onde participou da formação de grupos como Garnizé, Terreiro de Breque, Suburbana Carioca e Sambachorô, onde se apresentou em locais importantes da cena noturna como o histórico Simplesmente. Recentemente de volta a Bahia, em Trancoso e região toca adiante seu timbre único e imponente com o Sonoros Trancoso e o Samba do Aconchego, tendo já exibido seu vasto repertório em casas como Godofredo e Cala e Divino. Raiz e folha é seu primeiro, de tantos álbuns, em que abraça generosamente a obra do escritor e compositor carioca Zeh Gustavo, sob direção musical de Daniel Delavusca. O pueta... Zeh Gustavo é músico, escritor, revisor carioca morador de Cuiabá (MT). Mexe com poesia, canto, letra, conto. Na música faz parte, como cantador, de grupos como o Terreiro de Breque e já passou também por Cordão do Prata Preta, Samba da Saúde e Banda da Conceição. Raiz e folha reúne pela primeira vez suas composições, concebidas em caminho solo ou com parceiros de letra ou de melodia. Na literatura, organizou em 2021 a antologia Jumento com Faixa: deboches e antiodes ao fascismo, pela Viés, com quem também lançou, em 2019, o livro de poesias Contrarresiliente. Publicou, ainda, Eu algum na multidão de motocicletas verdes agonizantes (Viés, 2018; vencedor do Prêmio Lima Barreto de Contos da Academia Carioca de Letras), Pedagogia do suprimido (Verve, 2013; Autografia, 2015), A perspectiva do quase (Arte Paubrasil, 2008) e Idade do Zero (Escrituras, 2005), além de ter participado de diversas coletâneas como @Normal: o mundo pós-pandemia segundo a literatura (Literatura Cotidiana, 2020), Porremas (Mórula, 2018), Para ler o samba (Ímã, 2016) e O meu lugar (Mórula, 2015). O diretô, arranjadêro, tocadô, fuzuêro... O gaúcho Daniel Delavusca, assentado no Rio de Janeiro, tem ficha corrida: cavaquinhista, cantor, compositor, educador musical, estreia na direção e produção musical de discos justamente com Raiz e folha. Multitalento, toca em diversos grupos como Samba de Lei e Terreiro de Breque e, em 2018 teve gravadas as músicas “Prece à Oxum” (com Alexandre Nadai), pela cantora Jéssica Ellen; e “Qual é o teu talento? E “Pescador”, pelo grupo Nós de Cabrália. Lançou em 2019 seu primeiro clipe: “Em São João/Feito com amor”. Ainda em 2021, durante a pandemia, lançou, em conta-gotas saborosos, faixa a faixa, seu álbum próprio, intitulado Delavusca cantando em casa; trabalha nos arranjos do primeiro álbum do grupo Awurê; e dirigiu e arranjou o álbum Afro-gaúcho futurista, de Marcelo Amaro. |
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