CONSPIRAÇÃO COMO
ARGUMENTO
Dizer que se trata de conspiração, ou
negar tal coisa, tornou-se tema recorrente. Teoria conspiratória pode ser
retórica que facilita sofismas, desqualificar sem exame. É acusação de
fantasia, tolice ou trama diabólica. Pode ser argumento insidioso. Conspiração
é “(...) conluio, maquinação, trama, união, concórdia, (...) conjuração”;
Conspirar é “secretamente planejar, junto com outra(s) pessoa(s), ações
[diversas] (...)” (Dicionário Houaiss da língua portuguesa).
O planejamento e ação política,
empresarial, diplomática e militar fazem uso da união e concórdia entre os
seus, elaboram conluios, maquinação e trama contra concorrentes e adversários.
É o que mais se faz na política e na guerra, que é a política por outros meios
(Carl von Clausenwitz, 1780 – 1831). A contrário sensu, a política é a guerra
nem sempre empreendida por meios tão diferentes. Não é absurdo ou fantasia conceber
a existência de conspirações. É preciso identificar falhas naquilo que
examinamos. Demonstrada a inconsistência das alegações avaliadas, nem é preciso
adjetiva-las como teorias conspiratórias. Articulações internacionais foram
acusadas de interferir na política interna dos países do nosso continente. A
acusação foi negada. Seria uma “teoria conspiratória”. Eis que de repente
expoentes da articulação referida jactaram-se do poder da organização, que até
então diziam ser fantasia conspiratória, alegando, sem rubor na face, que a
organização “inexistente” havia conquistado seis governos no continente.
Analistas afastam explicações
reducionistas baseadas em conspirações como fator único ou decisivo dos
fenômenos que estudam. Assim procedem, com razão, porque são tantas as
conspirações que umas tendem a impedir as outras. Não se trata de negar a
existência de urdiduras de grupos em concórdia, maquinando contra adversários.
Os limites entre planejamento e conspiração nem sempre são claros. Planejamento
é técnico? O segredo e a prática de atos ilegais são típicos das conspirações? Segredo
é algo comum no meio empresarial e político. Atos ilegais, com variada
frequência, estão em toda parte. Acusação de conspiração pode ser argumento
falacioso ou ingênuo. A maior astúcia do diabo é convencer as pessoas de que
ele não existe.
Movimentos políticos
internacionais, inclusive obedecendo governo de uma potência da qual recebem
financiamento é parte da experiência histórica de diferentes tendências
políticas. A superação da soberania do Estado nação, sob influência atávica do
pensamento de Immanuel Kant (1724 – 1804), na obra “A paz perpétua: um projeto
filosófico”, é uma forete tendência em nossos dias. O Collegium International,
formado por intelectuais e líderes políticos de numerosos países, propõe
explicitamente o abandono dos princípios consagrados nos acordos de Vestfália, na
obra “O mundo não tem tempo a perder”, prefaciada por Fernando Henrique Cardoso,
coletânea de textos de oito intelectuais de renomados e líderes políticos de
vários países, propõe, no subtítulo da obra citada, uma governança mundial, que
será altruisticamente solidária e responsável. “O fardo do homem branco”, poema
de Rudyard Kipling (1865 – 1936), descrevia o altruísmo dos europeus que
colonizavam os países africanos e asiáticos para civilizar os bárbaros. A
vontade de servir, agora voltada para a salvação do planeta, convida os demais
povos a reconhecer um centro de poder internacional solidário e responsável. Os
“mais iguais” de Georg Orwell (Eric Arthur Blair, 1903 – 1950), como “A nova
classe”, de M. Djlas (1911 – 1995) são muito solidários.
Fortaleza, 9/11/21.
Rui Martinho Rodrigues.
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