Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

UM AVIÃO À REBOQUE ANTONIO DE ALBUQUERQUE SOUSA FILHO Professor Aposentado da UFC O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia-CE, criado em 16 de janeiro de 1936, com a denominação de Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura, era inicialmente vinculado à 2ª Região, sediada em Recife, cuja jurisprudência compreendia os Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, tendo como objetivo principal a fiscalização das atividades profissionais dos engenheiros, arquitetos e agrimensores. No ano de 1953, deixou a vinculação com a 2ª Região e passou à 9ª Região, envolvendo os Estados do Ceará e Piauí. Finalmente em 1977, passou a fiscalizar somente os profissionais do Estado do Ceará sob a denominação de CREA-CE. Com a criação do Conselho Regional dos Arquitetos e Urbanistas, em 2011, passou a ser chamado Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará (CREA-CE). Os engenheiros agrônomos, embora devessem ser vinculados ao CREA-CE, não tinham representantes como conselheiros no plenário da entidade. Com a aprovação da Lei nº 5194, de 24/12/1966, que regulava o exercício dos profissionais da agronomia, passou a ser obrigatória a presença dos representantes dos engenheiros-agrônomos nos Conselho dos CREAS. No inicio de 1968, eu e o Cláudio Régis Quixadá chegávamos como os primeiros conselheiros dos engenheiros agrônomos no Conselho do CREA-CE, representando o Centro de Ciências Agrárias (CCA) da UFC e a Associação dos Engenheiros Agrônomos do Ceará (AEAC), respectivamente. O CREA-CE funcionava, na época, no Edifício Elisa, situado na Rua Guilherme Rocha, 326 (esquina com a Rua Senador Pompeu), sala 45, tendo na Presidência o Engenheiro Jaime Verçosa e, como Conselheiros, os engenheiros Jaime Verçosa, Emanuel Arruda, Guido Fontgalland e Luiz Henrique; os arquitetos Ayrton Fernandes e Armando Farias e os engenheiros agrônomos Antônio de Albuquerque Sousa Filho e Cláudio Régis Lima Quixadá. No mês de dezembro de 1968, seria realizada reunião nacional do Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura (CONFEA), em Brasília. O CREA-CE designou os arquitetos Ayrton Fernandes e Armando Farias e o engenheiro agrônomo Antônio de Albuquerque para representarem o CREA-9ª Região. Viajamos pela empresa aérea VARIG, tendo a reserva de viagem apenas as datas de ida. A volta teria que ser marcada em Brasília. Na época, Brasília era uma cidade, sem muitas alternativas em relação a hotéis, restaurantes e outros serviços. Havia poucas ofertas de voos aéreos, para as diferentes localidades do território nacional, principalmente no trecho Brasília-Fortaleza. Ao procurarmos marcar o nosso retorno junto ao escritório da Varig, fomos informados que isso seria impossível até o final do ano. Noutras palavras, teríamos que passar Natal e Ano Novo em Brasília. Depois de muita insistência, fomos informados que a única alternativa seria irmos ao escritório da Varig, em Belo Horizonte. Seguimos imediatamente para Belo Horizonte de ônibus e, ali chegando, procuramos o escritório da VARIG, conseguindo marcar a viagem de retorno à Fortaleza para o dia seguinte. Partimos do Aeroporto de Belo Horizonte às 11.00 horas da manhã num avião turbo hélice (Avro) da Varig, que seguiria o roteiro Belo Horizonte – Montes Claros (MG)- Caravelas (BA)-Juazeiro do Norte (CE) - Fortaleza. Saímos com chuva de Belo Horizonte, descendo também com chuva no aeroporto de Montes Claros. Ao chegarmos em Caravelas, a pista estava molhada, sendo apenas metade asfaltada. A outra metade encontrava-se em obras. Ali desceu um passageiro e o piloto, ao tentar alçar voo, partindo do trecho em obras da pista, atolou a aeronave no solo barrento. “Se atolou-se” completamente, como diria o cearense do interior. Após várias tentativas do piloto, usando a força total do motor a aeronave afundava-se mais na terra molhada. A saída, seria pedir que todos os passageiros descerrem do avião, no que foi prontamente atendido. Nova tentativa do piloto e nada do avião sair do atoleiro. Nova sugestão, todos os passageiros passaram a empurrar o avião, o que feito com o máximo vigor dos viajantes e nada. A sugestão seguinte seria trazer um trator para puxar o avião. Depois de muitas horas de espera chegou o trator para puxar o avião, utilizando uma corda, que logo se partiu e nada resolveu. Alternativa foi trazer um cabo de aço para ligar o avião ao trator. Nova demora em localizar o cabo de aço o qual, finalmente, chegou e foi engatado no trator, conseguindo- se arrancar o avião do lamaçal. Como já estava anoitecendo, o piloto comunicou aos passageiros a proibição de levantar voo, dado às precárias condições do aeroporto local. Teríamos de dormir em Caravelas e, na manhã seguinte, prosseguir a viagem. Caravelas (BA) era uma cidade pequena, na época, sem estrutura para receber tantos hospedes. Na sua única pensão, jantamos pão com ovos estrelados. Colchões foram arrumados às pressas e colocados no chão, onde os passageiros da Varig dormiram. No dia seguinte, o cardápio do da manhã foi pão, ovos estrelados leite e café. Manhã cedo, embarcamos pra continuar a viagem. O piloto foi para o inicio da parte asfaltada da pista e comunicou que tentaria alçar voo, só utilizando a parte asfaltada do aeroporto. A começar sua corrida para decolagem, os passageiros gritavam em coro: “Sobe! Sobe! Sobe!”. Ao subir valentemente, todos gritaram: “Subiu! Subiu! Subiu” e palmas, muitas palmas para o piloto e sua equipe de bordo. Depois de dois dias de viagem, finalmente chegamos a Fortaleza, onde familiares nossos esperavam ansiosos e nós todos contando a aventura. Afinal, não é comum empurrar-se um avião de carreira.

 UM AVIÃO À REBOQUE

  ANTONIO DE ALBUQUERQUE SOUSA FILHO
Professor Aposentado da UFC
        
        

 

O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia-CE,  criado em 16 de janeiro de 1936, com a denominação de Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura, era inicialmente vinculado à 2ª Região, sediada em Recife, cuja jurisprudência compreendia os Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco,  tendo como objetivo principal a fiscalização das atividades profissionais dos engenheiros, arquitetos e agrimensores. No ano de 1953, deixou a vinculação com a 2ª Região e passou à 9ª Região, envolvendo os Estados do Ceará e Piauí. Finalmente em 1977, passou a fiscalizar somente os profissionais do Estado do Ceará sob a denominação de CREA-CE. Com a criação do Conselho Regional dos Arquitetos e Urbanistas, em 2011, passou a ser chamado Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará (CREA-CE).

Os engenheiros agrônomos, embora devessem ser vinculados ao CREA-CE, não tinham representantes como conselheiros no plenário da entidade. Com a aprovação da Lei nº 5194, de 24/12/1966, que regulava o exercício dos profissionais da agronomia, passou a ser obrigatória a presença dos representantes dos engenheiros-agrônomos nos Conselho dos CREAS.

No inicio de 1968, eu e o Cláudio Régis Quixadá chegávamos como os primeiros conselheiros dos engenheiros agrônomos no Conselho do CREA-CE, representando o Centro de Ciências Agrárias (CCA) da UFC e a Associação dos Engenheiros Agrônomos do Ceará (AEAC), respectivamente. O CREA-CE funcionava, na época, no Edifício Elisa,  situado na Rua Guilherme Rocha, 326 (esquina com a Rua Senador Pompeu), sala 45,  tendo na Presidência o Engenheiro Jaime Verçosa e, como Conselheiros, os engenheiros Jaime Verçosa, Emanuel Arruda, Guido Fontgalland e Luiz Henrique; os arquitetos Ayrton Fernandes e Armando Farias e os engenheiros agrônomos Antônio de Albuquerque Sousa Filho e Cláudio Régis Lima  Quixadá.  

 No mês de dezembro de 1968, seria realizada reunião nacional do Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura (CONFEA), em Brasília. O CREA-CE designou os arquitetos Ayrton Fernandes e Armando Farias e o engenheiro agrônomo Antônio de Albuquerque para  representarem  o CREA-9ª Região. Viajamos pela empresa aérea VARIG, tendo a reserva de viagem  apenas as datas de ida.  A  volta teria que ser marcada em Brasília.

Na época, Brasília era uma cidade, sem muitas alternativas em relação a hotéis, restaurantes e outros serviços. Havia poucas ofertas de voos aéreos, para as diferentes localidades do território nacional, principalmente no trecho Brasília-Fortaleza. Ao procurarmos marcar o nosso retorno junto ao escritório da Varig, fomos informados que isso seria impossível até o final do ano. Noutras palavras, teríamos que passar Natal e  Ano Novo em Brasília. Depois de muita insistência, fomos informados que a única alternativa seria irmos ao escritório da Varig, em Belo Horizonte.

Seguimos imediatamente para Belo Horizonte de ônibus e, ali chegando, procuramos o escritório da VARIG, conseguindo marcar a viagem de retorno  à Fortaleza para o dia seguinte.

Partimos do Aeroporto de Belo Horizonte às 11.00 horas da manhã num avião turbo hélice (Avro) da Varig, que seguiria o roteiro Belo Horizonte – Montes Claros (MG)- Caravelas (BA)-Juazeiro do Norte (CE) - Fortaleza. Saímos com chuva de Belo Horizonte, descendo também com chuva no aeroporto de Montes Claros. Ao chegarmos em Caravelas, a pista estava molhada, sendo apenas metade asfaltada. A outra metade encontrava-se em obras.  Ali desceu um passageiro e o piloto, ao tentar alçar voo, partindo do trecho em obras da pista, atolou a aeronave no solo barrento.  “Se atolou-se” completamente, como diria o cearense do interior. Após várias tentativas do piloto, usando a força total do motor a aeronave afundava-se mais na terra molhada.  A saída, seria  pedir que todos os passageiros descerrem do avião, no que foi  prontamente atendido. Nova tentativa do piloto e nada do avião sair do atoleiro. Nova sugestão, todos os passageiros passaram a  empurrar o avião, o que feito com o máximo vigor dos viajantes e nada. A sugestão seguinte seria trazer um trator para puxar o avião. Depois de muitas horas de espera chegou o trator para puxar o avião, utilizando uma corda, que logo se partiu e nada resolveu. Alternativa foi trazer um cabo de aço para ligar o avião ao trator. Nova demora em localizar o cabo de aço o qual, finalmente, chegou e foi engatado no trator, conseguindo- se arrancar o avião do lamaçal. Como já estava anoitecendo, o piloto comunicou aos passageiros a proibição de levantar voo, dado às precárias condições do aeroporto local. Teríamos de dormir em Caravelas e,  na manhã seguinte, prosseguir a viagem.

Caravelas (BA) era uma cidade pequena, na época, sem estrutura para receber tantos hospedes. Na sua única pensão, jantamos pão com ovos estrelados. Colchões foram  arrumados às pressas e colocados no chão, onde os passageiros da Varig dormiram. No dia seguinte, o cardápio do da manhã foi  pão, ovos estrelados leite e café.

Manhã cedo, embarcamos pra continuar a viagem. O piloto foi para o inicio da parte asfaltada da pista e comunicou que tentaria alçar voo, só utilizando a parte asfaltada do aeroporto.  A começar sua corrida para decolagem, os passageiros gritavam em coro: “Sobe! Sobe! Sobe!”. Ao subir valentemente, todos gritaram: “Subiu! Subiu! Subiu” e palmas, muitas palmas para o piloto e sua equipe de bordo.

Depois de dois dias de viagem, finalmente chegamos a Fortaleza, onde  familiares nossos esperavam ansiosos e nós todos contando a aventura.  Afinal, não é comum empurrar-se um avião de carreira.

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