TEORIAS CONSPIRATÓRIAS
Teoria conspiratória é uma forma de
desqualificar suspeitas e acusações. Conspiração tem a participação de duas ou
mais pessoas “para a realização de um ato qualquer, mais estritamente para a
execução de um delito. (...) planejam todas as fases de algum ato punível e
decidem firmemente executá-lo” (Juan Blasco Quintana, Dicionário de Ciências
Sociais da FGV, p. 250). É, portanto, um planejamento de pessoas que usam meios
ou perseguem objetivos ilícitos. Nada disso é extraordinário na ação política, no
planejamento e pode envolver atos ilegais, mantendo parte dos objetivos, meios
e identidades nas sombras.
Interesses, paixões, ardis, articulação
de pessoas, violação da lei e da ética são realidade na política. É fácil
invocar nobres propósitos e camuflar o que Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844 –
1900) chama de vontade de potência, legitimando ambição de poder. A lei é
invocada quando convém, do contrário passa a ser pejorativamente legalismo. Moralidade
defendida com adesivos do tipo “pela ética na política” se transforma em
“moralismo da desprezível classe média”. Conspirações não explicam a história
quando tomadas isoladamente, em análises reducionistas, porque são tantas as
conspirações que dificilmente uma delas será um fator determinante.
Projeto de poder é planejado. A luta
pelo poder pode adotar procedimentos e objetivos ilegais. Revolucionário
conspira. O projeto de um mundo melhor estimula a ética teleológica, na qual os
fins justificam os meios, como na “A moral deles e a nossa”, de Leon Trótski
(Lev Davidocivh Bronstein, 1879 – 1940).
Os intelectuais ungidos (Thomas Sowell,
1930 – vivo), em “Os intelectuais e a sociedade”, herdeiros dos reis filósofos
de Platão (428/427 a.C. – 348/347 a.C.), prometem emancipação, a semelhança da
promessa da serpente no livro de gênese. A obra “O Estado e a revolução”
(Vladimr Ilyich Ulyanov, Lênin, 1870 – 1924) promete todo poder aos soviets
(comitês), emancipação. Outra obra do mesmo autor, “O que fazer”, descarta os
comitês e declara: quem tem o conhecimento não precisa consultar o número (de
votos). Intelectuais ungidos sonham com o poder, como detentores do saber valorizado
em “O que fazer”, mas são perseguidos nas revoluções. Lesley Chamberlain (1951
– viva, “A guerra particular de Lênin”), relata a violência contra os
intelectuais na revolução de 1917.
A teoria da
pauperização falhou como apelo revolucionário. Os indicadores de qualidade de
vida explicam tal fracasso. Mortalidade infantil, esperança de vida, analfabetismo
e escolaridade e acesso aos bens materiais só melhoraram. Karl Heinrich Marx
(1818 – 1883) e Friedrich Engels (1820 – 1895, “Manifesto comunista”),
mostraram-se deslumbrados com os feitos do capitalismo, que condenavam por
entender que estava exaurido como modo de produção. O que diriam hoje?
Os ungidos deixaram de
falar na teoria da pauperização. Adotaram a crítica ao consumismo, mas a
frugalidade não faz prosélitos. A solução foi explorar as mágoas de grupos
identitários. Adotar e largar teses é fácil para os messiânicos. Internacionalismo
pode ser trocado por nacionalismo; assembleísmo pelo saber dos “esclarecidos”;
igualdade comporta os “mais iguais”, de George Orwell (Arthur Blair, 1903 –
1950, “A revolução dos bichos”) e das experiências históricas (“Nova Classe”,
Milovan Djilas, 1811 – 1995). A dialética, senhora de costumes cognoscitivos
fáceis (Lucio Coletti, 1924 – 2001) ou logomaquia (Karl Raymond Popper, 1902 –
1994) salvam os sofistas.
Conspirações existem e
alimentam movimentos amplos.
Fortaleza, 3/12/20.
Rui Martinho Rodrigues.
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