Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

NOSSA CASA EM CHAMAS - Fortaleza, 26/8/19. Rui Martinho Rodrigues.


NOSSA CASA EM CHAMAS
O presidente Emmanuel Jean-Michel Frédéric Macron referiu-se aos incêndios na Amazônia dizendo: “a nossa casa está em chamas” e “a floresta amazônica é o pulmão do mundo”. A atmosfera não tem fronteiras. Os limites nacionais não valem para quem está sendo sufocado. O oxigênio é produzido nos oceanos e nem toda amazônia é coberta por florestas. Nela existem amplos espaços formados por campos, entre os vales dos rios. A decomposição de matéria orgânica no solo úmido e quente da floresta produz dióxido de carbono. O saldo entre a produção de oxigênio e gás carbônico pode até ser desfavorável. O senhor Macron sabe de tudo isso. Não é tolo. Pretende nos fazer de tolos.
Macron e a senhora Angela Merkel não se preocupam com o desmatamento realizado em países cuja agricultura não tem aptidão para concorrer com a dos franceses e alemães, como Congo, Indonésia, Malásia e Peru.
O argumento do patrimônio universal dos recursos naturais da amazônia foi muito bem colocado pelo então senador Cristóvam Ricardo Cavalcanti Buarque, que se disse disposto a apoiar a internacionalização da amazônia depois da internacionalização das patentes industriais e de remédios tão necessários ao bem-estar de humanidade. O argumento da casa comum não é apenas falacioso. É caviloso, como capciosa é a tentativa de nos considerar incapazes de gerir os nossos recursos por termos incêndios descontrolados. Grécia, Espanha, Portugal, EUA, Austrália e a própria França têm tido – recentemente – centenas de incêndios descontrolados causando vítimas e até atingindo cidades. A “nossa casa” não queimou nestes e em outros casos. Nem estes países foram considerados sem aptidão para soberania. Estação seca e quente, acidentes e crimes são as causas. Governos não são responsabilizados e recebem ajuda para enfrentar o fogo. Nós não recebemos ajuda, mas ameaça de sanções econômicas e de intervenção.
O general Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, em visita a unidade militar na Amazônia, encontrou, entre índios, o rei da Noruega. O monarca entrou no Brasil, não visitou o presidente de nenhum dos três Poderes e teve autorização para fazê-lo em segredo. Qual o sentido de tal procedimento? E do presidente francês querendo nos embair com o tal “pulmão do mundo”? Protecionismo. O agronegócio brasileiro é imbatível. Produz até três safras por ano e usa a melhor tecnologia do mundo. Não tem interesse em queimadas arcaicas. Não é incendiário. A gricultura brasileira cresceu mais sobre o serrado que sobre a floresta; e mais por aumento de produtividade que pela expansão da área.
O protesto dos coletes amarelos diz alguma coisa sobre a atitude do senhor Macron: desviar a atenção dos seus problemas internos. E a Amazônia tem províncias minerais riquíssimas. As economias francesa e alemã estão desacelerando. Isso lembra protecionismo, lembra o acordo Mercosul-UE. As maiores reservas indígenas estão localizadas nas fronteiras. Ameaça de sanções, de intervenção e a tese da “nossa casa” nos dizem que a velha preocupação com a cobiça estrangeira não é teoria da conspiração. Somos uma nação pacífica. Negligenciamos a nossa defesa. Países mais pobres, como Paquistão, Irã, Turquia e Índia, são muito mais armados. Si vis pacem parabelum, diziam os romanos. O primeiro dever do príncipe é preparar a guerra, disse Nicolau Maquiavel (1469 – 1527). Nossas divisões internas não legitimam eventual cumplicidade com a cobiça estrangeira. É hora de união. Não queremos ser uma Líbia.
Fortaleza, 26/8/19.
Rui Martinho Rodrigues.

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