POR QUEM OS SINOS
DOBRAM?
Não temos partidos, mas
organizações criminosas. Não temos líderes, mas chefes mafiosos. As ideias
majoritárias nos meios universitários, políticos e de comunicação são as mais
equivocadas. A desorientação decorrente da irracionalidade dos paradigmas, como
diria Thomas Kuhn, ou da cegueira ideológica, como se diz vulgarmente, produziu
em muitos uma surpreendente incapacidade para os raciocínios mais óbvios, que
somada às manobras conscientes de desinformação, da parte de outros, instalaram
o caos cognitivo.
Até o medieval “martelo
das bruxas” está de volta. Este consistia em torturar os réus da “santa
inquisição”, considerando culpados aqueles que cedessem ao suplício, por
admitir como válidas as confissões. Também consideravam culpados quem não
confessasse, porque só tendo pacto com o diabo se poderia resistir ao tormento.
Pelo sim, pelo não, os investigadores “do bem” estavam sempre certos.
A “grande mídia é
mentirosa” quando denuncia alguém das “esquerdas”, mas é verdadeira quando
acusa a “direita”, apesar das partes terem sido sócias no saque ao erário, por
um longo período, numa cooperação ideologicamente indiferenciada. Parceiros por
tantos anos não seriam coautores nos crimes da Lava Jato, sustenta-se sem
nenhum rubor na face. Alega-se em defesa das “esquerdas”, que outros
personagens também praticaram crimes, como se isso fosse excludente de
ilicitude. Argumenta-se que o Brasil não virou um mar de rosas com o
afastamento de parte dos criminosos que saquearam o país nos últimos anos, como
se a aplicação da lei fosse condicionada a resultados de política econômica e
social. Lula não foi preso e isso seria “evidência da inocência do
ex-presidente”, mas sua prisão seria “prova de perseguição”. A ideia de um
conflito inconciliável entre capital e trabalho, tão prestigiada até meados do
século XX, continua forte no Brasil, ignorando o fato de que quem tem interesse
em vender não conflita irremediavelmente com quem tem interesse em consumir.
Assistimos a uma pregação aberta da violência, sob o argumento de que passou o
tempo da conciliação e até de que não há solução sem derramamento de sangue,
esquecidos dos reiterados fracassos das revoluções. Quem acusa as “esquerdas”
tem ódio no coração, mas quem acusa a “direita” tem “amor cristão”, embora não
se saiba o que é esquerda e direita.
Por quem sinos dobram?
Pelo Brasil.
Fortaleza, 05 de junho
2017
Rui
Martinho Rodrigues
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