ANOMIA
ESCANCARADA
Piquetes
de mulheres paralisam impunemente a PM do Espírito Santo e ameaçam fazer o mesmo
em outros estados. São as mulheres que estão paralisando a tropa? Mentira. A
polícia das polícias está sendo o exército, que se limita a policiar as ruas.
Não age para restabelecer a disciplina, que é a base da organização militar.
Greve em quartel é rebelião ou motim. Amotinados deveriam ser presos e
processados. Uma polícia de dez mil efetivos seria paralisada por meia dúzia de
mulheres? Não.
A
profundidade da crise se revela pelo grau de violência nas cidades capixabas. Tanto
saque, tiroteio e homicídio seria espontâneo? A hipótese de cumplicidade entre
bandidos e policiais, para valorizar o papel da polícia e fortalecer a barganha
dos amotinados ganha verossimilhança. A crise é muito mais do que um simples
motim, denunciando relações promíscuas entre policiais e bandidos, num
mutualismo criminoso intolerável.
As
polícias militares eram ligadas a uma diretoria do exército. Isso deixou de
existir? Ou o exército está se omitindo do dever de controlar amotinados? O mal
exemplo poderá contaminar as FFAA. Nelas também os salários estão defasados e
não faltam desculpas para o “grevismo”.
As
autoridades, em todos os escaninhos do Estado, estão constrangidas, sem
condições de cumprir o dever, seja porque não seria “politicamente correto”, ou
porque cumprir o dever daria lugar a exploração política, ou porque a sociedade
está desorientada pelos intelectuais ungidos, que apontam solução indolor para
tudo, sem se importar com (in)viabilidade das ditas soluções. Vivemos sob o
império da hipocrisia, agravada pelo déficit de legitimidade decorrente da
falta de representatividade política em todos os entes federativos, ao lado da
desmoralização decorrente do desmascaramento da corrupção generalizada e
sistêmica. Tudo isso destruiu a autoridade legítima.
Os
políticos não irão como ovelhas mudas para o abatedouro da lava jato. As
articulações, nas mais altas esferas de República, já dão indícios de que
alguma coisa está sendo feita para salvar a tradição de impunidade. Medidas
legislativas e no âmbito administrativo, na forma de leis ou de simples
transferência, por via de promoção, de delegados da PF já estão em curso.
Políticos que até ontem brigavam se apresentando como vítimas e acusando uns
aos outros de corruptos ou golpistas, se abraçam e articulam a salvação da
própria pele.
A
democracia não tem defesa contra uma maioria corrupta que contamine os três
poderes da República. Não será a judicialização da política, nem a ação isolada
dos valorosos procuradores, delegados e juízes de primeiro grau que irá nos
salvar. A judicialização da política e o ativismo judicial partidarizaram o
STF. O tenentismo de toga, tão imbuído de bons propósitos quanto o tenentismo
de farda, fracassará como o seu precedente. Estamos sacrificando preciosas
garantias do devido processo legal a troco de nada, se as mais altas esferas
dos três poderes acintosamente promoverem a impunidade. Quem poderá nos salvar?
Não será o Chapolin Colorado nem outro salvador da pátria. É preciso que a
sociedade reaja.
Fortaleza,
13 de fevereiro de 2017
Rui
Martinho Rodrigues
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