Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

quarta-feira, 13 de julho de 2016

SAUDADE DOS MEUS VELHOS

SAUDADE DOS MEUS VELHOS
V,F,


Não sei ao certo, se chama-los de velhos, seria correto, visto que a palavra, "Velhos" tem conotação de inutilidade e abandono. O que não serio o caso.
 Talvez chama-los de experientes ou saibos da escola da vida, seria melhor.- com eles, aprendi ao longo dos anos, ao ouvi-los, e entende-los e admira-los, quando o tempo dourou seus cabelos e franzia suas fases. Tornaram-se meus companheiros e conselheiros independente do grau de parentesco.
 Saudades da minha avo. Mulher de poucas palavras. Talvez, o rio Amazonas, em sua origem a influenciara mesmo que o seu pai fosse um coronel nascido em Lisboa. Quando eu achava que ia fraquejar, ela era a minha" usina de força. " Nunca me deu colo, mais me ensinou a força do silencio. Casou-se pelo mais puro amor. Enfrentou coronel pai, a mãe a família de renome e seguiu o chamado do coração. Viveu, e amou aquele marido para sempre. dela ouvi as belas historias de amor, guerra e fugas apaixonadas...
 E havia as minhas doces ouvintes tias. Meus perfumados tios. Guardiões silenciosos dos nossos arroubos juvenis.- Quantas saudades tenho deles! Senhores garbosos em seus ternos brancos de linho em flor, com chapéus de abas longas, dando-lhes ares fidalgos. Como o vizinho do lado, o vovô Braz .
 Alto escuro e forte como uma montanha, ja bem doentinho, ainda me punha no seu braço de homem do mar que fora, a catar bombons, que teimavam em escorregar das minhas mãos de três anos de vida.  Eu adorava 
isso.
 Seu filho, o Pai Veio, escondido da minha mãe subia comigo também no braço, uma escadaria enorme ate o pombal no alto da caixa dagua, para me mostrar pegar e sentir o calor dos borrachinhos na palma da minha mão.
 Na casa dos fundos havia outro estivador, seu Miguel e sua esposa, como a chamava sempre: Minha esposa Augusta. Ele nos presenteava com restos de cordas enormes, quase apodrecidas pelo mar, que não serviam mais para amarrar os navios estacionados no cais. Adorávamos emenda-las, para brincar de pular. Haja pernas! Na sua casa a meninada florescia. O Ribamar a Rosa a Regina e uma cachorra chamada Jupira. 
 Mais adiante numa casa branca e florida ainda resiste o tio Elias. no alto dos seus cento e três anos como um rei cansado, contando historias e estorias, como uma locomotiva, estacionada no tempo, destas que tanto trabalhou nos áureos do trem. Ele na sua lucidez transmite a paz e a certeza de que a idade só existe no espirito.
 Na mercearia da esquina um senhor alto, nariz pontudo, olhos pretos afiados de águia, escorado no balcão sempre, observava o movimento da rua. So ele tinha aquele pão das três... Seu Deca teve um derrame e por ai se consumiu. Dentro da mercearia na porta, havia anotado as medidas ate hoje, conforme o crescimento de todas as crianças da vizinhança. Nunca entendi porque o ponteiro da balança do seu Deca não encostava no zero.  
 - Será que estarão me esperando todos enfileirados, conversadores e alegres como em suas vidas, no Portal da Eternidade algum dia! 
 Espero que, somente assim possa dizer finalmente ao reve-los; - QUE SAUDADES DE VOCÊS, MEUS AMADOS, AMIGOS E QUERIDOS VELHOS!!!

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