Refinaria que os Maranhenses não Verão
José Lemos*
Passei nesta semana em Bacabeira e vi os escombros do que seriam as instalações da Refinaria Premium I, cuja pedra inaugural foi colocada em 2009 com todas as pompas e circunstâncias pelo então Presidente Lula, pela Governadora que havia tomado de assalto o governo do estado. Lá também estavam a Ministra Chefe da Casa Civil, “mãe” do PAC em campanha para ser presidente no que seria a pior administração desde que se proclamou a República. Ela que havia sido Ministra das Minas e Energia, sem ser Engenheira, mas que foi apresentada ao Brasil como uma sumidade como Gerente. Para conquistar este adjetivo tudo o que fez foi se apresentar ao então recém-eleito presidente da república, munida de um notebook em que constavam profusões de tabelas e gráficos estatísticos que hoje se sabe, ela jamais soube o significado. Mas não era difícil impressionar alguém que, estando no poder, mal sabia desenhar o nome. Coisas do Brasil contemporâneo.
Fizeram um verdadeiro carnaval na “inauguração” daquele empreendimento que seria, na palavra deles, a redenção do Maranhão. Muita gente acreditou naquela encenação e investiu suas poupanças acumuladas com muita dificuldade, na construção de lojas, hotéis, supermercados. Até escolas para treinamento dos futuros operários da refinaria foram instaladas em Bacabeira visando atender a uma demanda que, seguramente, na avaliação deles, seria crescente. A especulação imobiliária jogou para as alturas os preços das terras naquelas imediações. Era o Maranhão indo em frente. Diziam. Claro que o Senador que nada entende de energia também estava lá. Ora se a mãe do PAC também não conhecia qualquer coisa do tema foi tida e havida como expert, por que não ele? Deve ter pensado. Além disso, aquele Ministério era feudo de “porteira” fechada do seu partido, e o seu mentor e correligionário era o manda chuva dali, depois da mãe do PAC, obviamente. Então, as várias convergências e coincidências não poderiam deixá-lo de fora do evento. E ele estava ali para fazer o seu lobby a fim de garantir aquele, literalmente, Mapa da Mina. O que afinal conseguiu, para desastre do Brasil e dos brasileiros. Mas isso nunca importou para os atuais detentores do poder. O importante é entregar os ministérios para os correligionários para deles angariar a conivência,
Há alguns fatos que justificam aquele lançamento no Maranhão. A Governadora havia sido colocada no poder sem respaldo popular. No ano seguinte haveria eleição para o governo do estado e havia candidatos fortes pleiteando, como o hoje Governador e o saudoso Governador apeado do poder de forma violenta. As oposições congregavam políticos do porte de Zé Reinaldo que havia feito um Governo que resgatou uma parte da autoestima dos maranhenses. Então aquela eleição de 2010 se prenunciava dificílima para a moça que estava inquilina do Palácio dos Leões sem o respaldo do voto popular, mas com a complacência e até conveniência do então presidente que queria perpetuar o seu partido indefinidamente no poder e, claro, fazer um grande afago de gratidão a quem demonstrava ter grande devoção. Então o lançamento daquele pseudoprojeto de refinaria caiu como uma luva nas mãos de todos aqueles que estavam interessados no poder.
Ai cometeu-se irresponsabilidades. Gastanças do nosso dinheiro. Nossos impostos pagos com o nosso duro trabalho do dia a dia escorreram pelos ralos do desperdício, da incompetência, da leniência de um grupo que tem como objetivo o poder pelo poder. Um circo parecido foi montado aqui no Ceará. Parte dos atores era os mesmos, mas os coadjuvantes eram outros, mas sempre com o mesmo objetivo. O poder pelo poder. Aqui no Ceará, como no Maranhão, já se antevia que as refinarias eram apenas para “maranhenses e cearenses não verem”. Não é por acaso que Maranhão e Ceará deram, proporcionalmente, as maiores votações à “mãe do PAC” em 2010 e agora em 2014. Os maranhenses elegeram por mais quatro anos a governadora que acabou de liquidar o estado. O Senador que não entendia de minas, muito menos de energia foi ser ministro. Seu filho virou Senador, sem receber um único voto. Como para haver ganhadores tem que haver perdedores, os grandes perdedores foram todos os brasileiros que viram o seu dinheiro ser jogado pelos ralos do desperdício, os maranhenses que mais uma vez foram enganados. Aqueles que investiram acreditando em algo que sempre pareceu obtuso amargam as perdas financeiras e o tempo perdido. Não sabem o que farão com os investimentos que fizeram. As terras, que tiveram elevação avassaladora por aquelas bandas, tenderão a voltar ao seu curso normal. Quem as comprou naquela volúpia, ficará com o prejuízo. Nós maranhenses e brasileiros somos os únicos penalizados. Todos os outros atores daquele circo estão bem. A Presidente se reelegeu. O Ministro voltou ao seu posto no Senado. A ex-governadora deve estar usufruindo férias fartamente remuneradas. O ex-presidente continua a sua saga de falastrão, achando-se o maior estadista do planeta. E o Brasil segue deitado em berço esplêndido. Agora sabendo que as brincadeiras das refinarias não passavam disso. Mas isso é irrelevante. Logo aparecerão “obras milagrosas”, invencionices que cabalarão votos.·.
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*Professor Associado, Coordenador do Laboratório do Semiárido (LabSar) na Universidade Federal do Ceará. www.lemos.pro.br;
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