Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Crônica de Carnaval moderno

Colunas

Crônica de Carnaval moderno

O Carnaval no Brasil evoluiu tanto que deixou de ser uma festa popular para se transformar em show business deslumbrante digno das grandes produções da Broadway. Há alguns anos, Carnaval no Brasil era um fenômeno festivo popular-familiar, principalmente nas cidades do interior. Hoje, nestas localidades, é tempo de gastar milhares de camisinhas fornecidas por poderes públicos, consumir muita bebida alcoólica e cantar músicas que foram sucesso há 50 anos. A festa acaba na Quarta-feira de Cinzas. Não há renovação musical, não há criação artística. É sempre mais do mesmo. No Rio, São Paulo, Salvador e Recife, o Carnaval transformou-se em show business a televisão mostrar. Shows caríssimos, deslumbrantes.
Neste ano, o destaque máximo ficou com a Escola de Samba Beija-Flor do Rio, 12 vezes campeã. Esta escola desfilou com o enredo ”Um graô (homem sábio) conta a história: um olhar sobre a África e o despertar da Guiné Equatorial”. O enredo foi: “Caminhemos sobre a trilha da nossa felicidade”. O tema foi revisto e aprovado por ditador sanguinário que matou milhares de pessoas que criticaram a permanência dele há 35 anos no poder onde reina sem medo de ser feliz. Teodoro Oblong Nguema Mabsoro, de 72 anos, é o mais longevo ditador da África e governa a Guiné Equatorial – um país rico em petróleo – despoticamente, sem escrúpulo e sem moral e, friamente, manda matar quem se opõe ao governo dele. Oblong é um dos homens mais ricos do mundo, segundo a revista “Forbes” e o povo da Guiné Equatorial, um dos mais pobres da África que ainda é um continente pobre.
Este personagem deu, neste ano, R$ 10 milhões para a Escola de Samba Beija-Flor cantar-lhe loas no Carnaval do Rio. O ditador só liberou o dinheiro depois que examinou e aprovou o enredo da Escola. Foi o desfile da desfaçatez e da nova filosofia que cresce no Brasil e recomenda que os “meios justificam os fins” e que “é preciso levar vantagem em tudo” com ou sem moral. Depois de receber dinheiro de bicheiros, traficantes e de políticos corruptos, a Beija- Flor descobriu uma rica mina de ouro num país africano governado por um dos mais violentos tiranos do mundo.

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