Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

quinta-feira, 26 de junho de 2014

POESIAS DE MARCIO CATUNDA

LÁSTIMA

Tenho pena do homem natural,
órfão no deserto das almas,
à mercê do obsessor proativo
que não lhe dá trégua.
e que trucidaria os colibris e as borboletas,
na falta de outra cretinice.
Tenho pena do homem de fé,
contrito na praça dos mártires,
vítima do diabo licantropo
que sai do esquife num pesadelo
para perturbar-lhe o sossego pastoril.
Coitado do homem piedoso,
(mais coitado dele do que do Álvaro de Campos,
"com quem ninguém se importa").
O piedoso, condenado sem crime,
sofre na prisão da injustiça.
Apiado-me também de mim,
defensor indefeso dos oprimidos.
Só não me compadeço do empedernido malévolo,
protagonista no enredo da mesquinharia.
O que abarca o botim do irrisório feudo,
na expectativa de ser com ele enterrado
na hora solene do dia fatal.


A BANDEIRA CONTRÁRIA

Desenclausuro-me de dogmas
no overnight da sargeta.
Há créditos para estimar-me o risco?
Gasto o que é de graça
e me aventuro, sem obrigações.
Aduanas não são donas dos meus pés.
Abandono a horda que me aborda à bordo.
Desgarro-me das forças que me arrastam ao redil.
Dos agressivos fujo, desarmado
e desfraldo a bandeira contrária.
A sociedade espalha gases letais
e até os mosquitos atentam contra o meu bem-estar.
Mas eu me sinto tão sem limites,
que imagino, sem ânsias, o voo sonífero do tempo.
 
 


SERENATA À LIBERDADE
 
Ó perigosa deusa
que me alteras em labirintos de luz!
que eu possa desfrutar da tua noite lânguida,
quando procedo contra polícia e manicômio.
Ó alegria de arte proibida,
que contemplo nos dias autosuficientes!
Ó suave musa do Apocalipse da Era de Aquário!
Elixir dos itinerantes
que os sacerdotes dogmáticos
tentam banir do mundo.
Descanso na penumbra dos teu canoro frenesi.
Raptas os meus sentidos com o teu antídoto
contra a hipnose repressora.
Força centrífuga,
impulsionas o argonauta lírico
à navegação mental
de viajar nos minutos
do ansiado frescor.
Plácida expectativa que sonho
na solidão de desafiar o ritmo existencial.
Hino de amor no mar fictício da cidade!
Aceita o íntimo desvelo do meu canto,
Minha fuga estratégica,
meu consolo temporário!
 

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