Esta foto do Abrigo Central foi enviada pela engenheira Tereza Câmara Costa, mulher do meu amigo Rubens. Ela sabe que curto a Fortaleza que o progresso carregou e que existe hoje apenas na memória dos mais velhos.
Eu estava na praça do Ferreira, coração de Fortaleza, na véspera da demolição do Abrigo. Lembro da foto tirada naquela noite. Era o ano de 1967, não sei mais o dia. O pessoal que frequentava a praça à noite posou para a posteridade. Estava lá, mas não apareço na foto. Tenho a impressão que me passaram a câmara e pediram para tirar o retrato. Só pode.
|
Prefeito Acrísio Moreira na central
|
Em 1949 o prefeito Acrísio Moreira da Rocha mandou abrir licitação para a construção de um abrigo para pessoas que esperavam ônibus. O empresário Edson Queiroz ganhou e em novembro daquele ano ele inaugurou o Abrigo Três de Setembro, o maior ponto de encontro da capital. Os ônibus que passavam na porta da minha casa, na avenida Padre Ibiapina, os circulares 24 e 25, faziam ponto no Abrigo. Era lá que políticos, comerciantes, estudantes, músicos, gente de todas as classes se reuniam para discussões, comentários sobre política, futebol, religião, mulher, enfim, todos os assuntos que chegassem na roda.
Além dos cafés Wal-Can, Hawaí e Presidente, funcionavam também a Livraria Alaor, a banca de revista e jornais do Bodinho. Não sai da memória as casas de merendas. A do Pedão da Bananada era a mais conhecida. Ele era torcedor fanático do Ceará. Um empregado dele era fã do Gamaliel Noronha, pra quem ligava diariamente para pedir uma música no programa Alma Sertaneja, que ia ao ar na Dragão do Mar: "Liel, fala neu, bota uma música e depois passa aqui pra tomar uma verdinha.” Ele se referia a vitamina de abacate, que no Ceará é conhecida como abacatada. Os liquidificadores rodavam sem parar preparando as vitaminas de frutas que eram acompanhadas de sanduíches, os famosos “cai-duro”, “espera-me no céu”, pão com carne moida e coentro. Pastéis de carne de alma e caldo quente para os que chegavam da farra.
Naquele tempo todo mundo merendava. Não se ouvia a palavra lanche, muito menos lanchonete. Sem que soubessemos, inauguramos alí as primeiras casas de Fast-food da cidade. Aliás, o fast-food virou sinônimo de um estilo de vida estressante que vem sendo criticado desde o final do século passado. Mas aí é papo pra outra conversa piaba.
Um comentário:
Ah! Lembro-me do abrigo central no começo dos anos 60, pois foi lá que vi as primeiras imagens de televisão. Era talvez o ano de 1961 e já tínhamos a TV CEARÁ CANAL 2. Era um domingo à noite e retornávamos eu e minha mãe da casa de minha tia, ali perto do Náutico Atlético Cearense na Praia de Meireles. Descemos do ônibus da Empresa Iracema na Praça Waldemar Falcão, defronte ao Palácio do Comércio e teríamos de ir a pé até a Praça José de Alencar para tomarmos o ônibus para o Porangabuçu, onde morávamos e ainda hoje membros de minha família residem na mesma casa. Minha mãe resolveu entrar comigo no Abrigo Central para tomar um refrigerante, certamente CRUCH, produzido aí mesmo em Fortaleza. Ao entrarmos no Abrigo ela me mostrou aquele aparelho, de aproximada 80 x 40 cm que reproduzia filmes. Então vi naquela pequena tela em preto e branco uma boiada nos pastos de uma Fazenda que ela me disse ser no estado de São Paulo. Como essas imagens estão vivas em minha mente! Como era pitoresco e romântico aquele abrigo, onde os homens quase todos de chapéu, em grupos, certamente falavam alto sobre futebol e política. Fica a saudade, o romantismo e os valores de um tempo que se foi, inclusive minha mãe, cujos restos jazem em Fortaleza. Ah! minha loira inesquecível ainda penso em viver sob o teu sol ardente e vento fresco e sob o luar de tuas noites que já foram bem românticas!
Toni Ferreira,
Belém-PA
Postar um comentário