DISCURSO DO FESTIVAL RIOMAR DE LITERATURA PERNAMBUCANA
Waldenio Porto
Presidente da Rede de Integração das Academias de Letras do Nordeste
Temos a tenacidade e a certeza do sertanejo enfrentando a seca, esperando por dias melhores. Prepara a terra do roçado, mal chega a promessa de chuva nos ares e as aves de arribação mostram que o tempo vai mudar. Fé em São José, o santo sertanejo, que vai acudir o povo, e tornar a fome e a sede virar fartura e encher de água nova os barreiros da terra sedenta. Promessa de voltarem a correr os riachos e tornar o mato esturricado e cinzento se colorir de verde, espalhando a esperança no sertão. As letras de Pernambuco e do Nordeste esperam há muito tempo por um bom inverno, que encha o paiol de milho e feijão. Como São José, que promete chuva, chegou nesta beira de rio, João Carlos Paes Mendonça. Contamos com a intercessão da jornalista Carmem Peixoto, a medianeira, que se entusiasmou com a idéia de promover a literatura regional. E João Carlos Paes Mendonça, que tem o sentimento telúrico, sente orgulho de ser nordestino, alavancou a iniciativa e promoveu o I Festival RioMar de Literatura Pernambucana. É como diz o pianista e maestro João Carlos Martins, “você vai atrás do sonho, a vida inteira. A partir de um certo momento, o sonho vem atrás de você mesmo, podes crer! ”.
Isto está acontecendo conosco agora!
E Pedro Herz se motivou, acolhendo um evento cultural nordestino, na sua Livraria Cultura, que exprime a essência mais íntima de sua família. Neste moderno teatro Eva Herz durante três dias se ouvirão escritores pernambucanos, que expressam a emoção do povo desta parte do Brasil. O escritor e a literatura do Nordeste lutam há muito tempo. Em 2005 as Academias de Letras do Nordeste, reunidas no Recife em Congresso, na Academia Pernambucana de Letras, conscientes de sua responsabilidade cultural e dos entraves que a literatura da região sempre enfrentou, acordam em fundar a REDE DE INTEGRAÇÃO DAS ACADEMIAS DE LETRAS DO NORDESTE, que seria um fórum permanente de discussão e decisão conjuntas. Elaboramos então este documento:
“Esta Rede vai tornar as Academias de Letras do Nordeste e as outras academias literárias, mutuamente conhecidas e estreitar o seu relacionamento. Formaremos um grande e coeso bloco cultural, uma Rede Permanente de Academias para debate e resolução dos nossos problemas comuns. Estudaremos a fundo a força mercadológica conjunta das nossas Academias e instituições afins, para chegarmos à constituição de uma Rede de Distribuição do Livro do Escritor Nordestino.
Temos um grande mercado que está aí a nossa disposição. Ele nos basta. Falta-nos conquistá-lo, através de uma ação coordenada, múltipla e abrangente das nossas Academias. Envolveremos, em cada cidade, as próprias Academias locais, as livrarias ou papelarias, as bancas de revista, os colégios, os diretores de colégios, os professores de português e de literatura, os formadores de opinião como os padres, pastores evangélicos, clubes de serviço como o Rotary e o Lyons, os jornais, os jornalistas, as rádios, os radialistas, os prefeitos, juizes e promotores, as Bibliotecas Públicas e as das escolas municipais. Lutaremos pela adoção do livro escrito por nossos autores como para-didáticos nas escolas. Estimularemos a instituição em cada cidade de um Concurso Literário Anual da Prefeitura. Todas estas instituições e pessoas referidas criarão a massa crítica necessária para viabilizar as soluções dos nossos problemas. Desde o incentivo à leitura através de concursos de declamação. Precisamos nos esforçar pela aprovação, em cada Estado e cidade, de leis que obriguem todas as livrarias a venderem os livros dos escritores locais. Deste modo o escritor do Nordeste se equipara, em oportunidades, aos de outras regiões, os quais permanecem bem-vindos aos nossos estados.
Será salutar que as Academias de Letras das capitais visitem as das cidades do interior, para intercambiar a cultura e manter a identidade da Pátria Nordestina”. Isto temos feito.
Por estar consciente de que “ninguém faz nada sozinho” a Rede de Integração das Academias de Letras do Nordeste associou-se com a UBE, União Brasileira de Escritores, a SOBRAMES, Sociedade Brasileira de Médicos Escritores e o Movimento em Defesa do Livro e dos Escritores Pernambucanos. Juntos têm trabalhado estes anos todos e conseguiram criar uma consciência da necessidade de adotar condutas em defesa da nossa identidade cultural.
Já realizou congressos em 2005, 2007, 2011 e agora este esplêndido evento no RioMar, associando João Carlos Paes Mendonça e Pedro Herz ao movimento de valorizar e divulgar a literatura pernambucana.
Ressalte-se a participação da REDE DE INTEGRAÇÃO, pregando o nosso credo, nos FLIG, Festival de Literatura de Garanhuns, no FLIC, Festival de Literatura de Caruaru, nos diversos FLIPORTO, Festivais de Literatura de Porto de Galinhas, no Festival de Literatura do Tocantins, nos diversos Congressos da UMEAL, União Internacional de Médicos Escritores e Artistas Lusófonos, no Congresso da SOBRAMES, em Curitiba.
As inúmeras visitas culturais que fazemos às cidades, entre outras Olinda, Paulista, Maceió, João Pessoa, Gravatá, Escada, Camaragibe, Cabo e mesmo em Palmas, no Tocantins, dão uma medida da dimensão do nosso trabalho. A promulgação de leis em defesa do livro Pernambucano, nas cidades do Recife e de Serra Talhada, e, ultimamente, a Assembleia Legislativa de Pernambuco com o decreto obrigando, em todo o Estado de Pernambuco, a exposição e venda pelas livrarias do livro de nossos autores. A exposição numa estante-propaganda do livro pernambucano no aeroporto dos Guararapes e na estação do Metrô.
Nos posicionamos, como entidade responsável pelos bens culturais, na ocasião em que se pretendia fazer uma reforma ortográfica. A língua é, depois do território, o maior patrimônio de um povo. Como é dever inalienável defender a integridade territorial, não é menor obrigação preservar o idioma do país. Que não pode ser atingido e modificado por decreto, como se fez. A Rede de Integração das Academias de Letras do Nordeste formada pelas Academias de Letras do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas, além da de Pernambuco, se posicionou contra esta reforma ortográfica que subverte a prosódia e dificulta o aprendizado da língua. Cópias do documento aprovado foram enviadas à Academia Brasileira de Letras e à Academia de Ciências e Letras de Lisboa. E teve intensa repercussão internacional na imprensa portuguesa.
Por outro lado a nossa pregação tem provocado um interesse invulgar pela cultura no estado todo. Nos últimos anos os escritores foram se agrupando em academias de letras, que já contam vinte em Pernambuco.
Como o pernambucano torce pelos times locais, o Santa Cruz, o Sport e o Náutico, e não dos de São Paulo e Rio de Janeiro, como fazem os outros Estados, o público deve torcer pela literatura pernambucana, os craques da escrita da terra. E o RioMar, João Carlos Paes Mendonça e toda a numerosa equipe do Shopping, a frente Carmem Peixoto, Eduarda Martins, Danielly Halinski se convenceram disso e levam as torcidas organizadas do público leitor a vibrar com os ídolos pernambucanos e nordestinos. A Rede de Integração das Academias de Letras do Nordeste consegue agora agregar João Carlos Paes Mendonça e Pedro Herz, que têm a verdadeira importância da cultura literária na formação do povo, consolidando o esforço das diversas instituições de escritores de Pernambuco.
Temos a tenacidade e a certeza do sertanejo enfrentando a seca, esperando por dias melhores. Prepara a terra do roçado, mal chega a promessa de chuva nos ares e as aves de arribação mostram que o tempo vai mudar.
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