PRESENÇA DO NORDESTINO
NA LITERATURA BRASILEIRA
Para ninguém é
segredo, o Nordeste brasileiro, ao longo da História, tem sofrido intensa
discriminação de parte de brasileiros indignos, porém abundantes. É Nordeste? É
de segunda categoria! É nordestino? É escória! Se alguém discordar destas
minhas palavras, ou desconhece a História, como também o dia a dia, ou faz
questão de mentir. O que afirmo é a mais cristalina expressão da verdade.
Para muitos, não a maioria, creio,
mas para muitos, que nasceram ao sul da Bahia, Nordeste e nordestinos são
sinônimos de inferioridade, de desqualificação em todos os sentidos. Como estão
equivocados! Em quase todas as atividades brasileiras, desde o primeiro abril,
aquele mesmo de 1500, até os tempos hodiernos, Nordeste e nordestinos têm
colaborado – e, muitas vezes, superado os “nobres” irmãos do sudeste, sul e
adjacências – em todas as atividades brasileiras.
Desde o primeiro abril, repito, já
era o Nordeste que aparecia. A frota de Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil e
fincou a primeira cruz, celebrou a primeira missa, escreveu o primeiro texto –
a carta de Pero Vaz de Caminha – tudo isto em abençoadas terras nordestinas, na
Bahia, mais precisamente. Foi também em terras nordestinas que foram deixados
dois portugueses como os primeiros exploradores do Novo Mundo.
E aí começou a exploração
nordestina: primeiro o Pau Brasil, riqueza da época, extraída em grande escala,
mas sem qualquer benefício para a região. Logo teve início o Ciclo da Cana de
Açúcar. A enorme fartura daquele valoroso produto de então enricava portugueses,
mas nordestinos, não.
Quase meio século depois, 1549,
chegou ao Brasil um Governador Geral, Tomé de Sousa, com a missão de tomar
conta e defender a nova terra, mantendo-a livre de invasões estrangeiras. Pois
bem, esse governo foi instalado na Bahia, ou seja, no Nordeste.
Vieram as invasões holandesas, sendo
expulsos esses invasores por pernambucanos, portanto nordestinos, heróis da
pátria.
O terrível costume de escravizar
africanos, quando banido no Brasil em 1888, já o fora, no Ceará, há quatro
anos, 1884. E quando o Brasil entrou na injusta Guerra contra o Paraguai, boa
parte dos seus soldados foram recrutados no discriminado Nordeste, sem contar
que um dos maiores heróis desse conflito foi o valente cearense General
Sampaio.
É, meus amigos, talvez o nordestino
não seja assim tão incompetente. Quando da proclamação da república, após 67
anos de império, quem cavalgava à frente da tropa era o Marechal Deodoro da
Fonseca, nordestino de Alagoas.
Estes todos são fatos e feitos que
desmentem a “teoria” sulista e do sudeste de que o nordestino é uma raça
inferior.
Até aqui, eu só falei de História.
Uma pequena amostragem de como têm atuado Nordeste e nordestinos nas coisas do
meu Brasil. Mas esta gente briosa, que vive ao norte de Minas Gerais, tem tido
atuação brilhante em várias atividades do nosso país: no cinema, no teatro, na
pintura, na escultura, nos esportes e… na Literatura.
A grandeza de uma nação, queiram ou
não queiram, passa pela sua Literatura. A Literatura do Brasil, queiram ou não
queiram, passa pelo Nordeste. Além de ter tido início nesta região, lá no
perído Barroco, com Gregório de Matos, Bento Teixeira e poucos outros, tem-se
mantido, ao longo de todos estes anos, com forte participação de nordestinos.
É minha intenção, com este texto,
mostrar ao amigo leitor o peso da Presença do Nordestino na Literatura
Brasileira. Recentemente, concluí uma longa pesquisa, com este título, sobre a
atuação, participação de nordestinos na nossa Literatura. Entre autores
consagrados em nível nacional e outros de menor peso, cataloguei mais de três
mil nomes. Vale salientar que todos os meus pesquisados são verbetes da
Enciclopédia da Literatura Brasileira,
obra do nordestino, baiano Afrânio Coutinho.
Como o número é muito avultado, aqui
citarei, a título de ilustração, apenas uns poucos representantes de cada
estado nordestino, todos de reconhecido renome nacional.
Assim, o Maranhão mandou para o
Brasil Graça Aranha, Aluísio Azevedo, Artur Azevedo, Humberto de Campos, Catulo
da Paixão Cearense, Coelho Neto, Gonçalves Dias, Ferreira Gullar, Josué
Montello, Sousândrade.
Do Piauí, o Brasil ganhou Assis
Brasil, Carlos Castelo Branco, Deolindo Couto, Da Costa e Silva, Evandro Lins e
Silva, Torquato Neto.
Cearenses brilhantes em nível
nacional são muitos. Nossa amostragem vai com Capistrano de Abreu, José de
Alencar, Patativa do Assaré, Gustavo Barroso, Adolfo Caminha, Moreira Campos,
José Aderaldo Castelo, Juvenal Galeno, Herman Lima, Adolfo Bezerra de Menezes,
Ana Miranda, Edmar Morel, Leonardo Mota, Gerardo de Melo Mourão, Paula Nei,
Domingos Olímpio, Oliveira Paiva, Rachel de Queiroz, Antônio Sales, Franklin
Távora, Padre Antônio Tomaz, Padre Antônio Vieira.
Do Rio Grande do Norte, receberam as
letras nacionais Câmara Cascudo, Nísia Floresta, Homero Homem, Murilo Melo
Filho.
A Paraíba enriqueceu nossas letras
com José Américo de Almeida, Augusto dos Anjos, Assis Chateaubriand, Celso
Furtado, José Nêumane, José Lins do Rego, Zé da Luz (Severino Andrade Silva),
Ariano Suassuna, Orlando Tejo.
De Pernambuco saíram Manuel
Bandeira, Evanildo Bechara, Hermilo Borba Filho, Joaquim Cardozo, Josué de
Castro, Ascenço Ferreira, Gilberto Freyre, Múcio Leão, Rogaciano Leite, Barbosa
Lima Sobrinho, Osman Lins, Olegário Mariano, João Cabral de Melo Neto, Joaquim Nabuco,
Carlos Pena Filho, Nelson Rodrigues, Mário Souto Maior, Adelmar Tavares, Bastos
Tigre.
Alagoas nos deu Aurélio Buarque de
Holanda, Ledo Ivo, Jorge de Lima, Guimarães Passos, Graciliano Ramos.
Vieram de Sergipe Gilberto Amado,
Tobias Barreto, Sílvio Romero, Joel Silveira.
E finalmente a Bahia nos presenteou
com Adonias Filho, Castro Alves, Jorge Amado, Ruy Barbosa, Afrânio Coutinho,
Clementino Fraga, Junqueira Freire, Dias Gomes, Gregório de Matos, Afrânio
Peixoto, João Ubaldo Ribeiro, Waly Salomão, Anísio Teixeira, Rodolfo Teófilo,
este cearense nascido na Bahia e trazido para o Ceará quase recém-nascido,
desenvolvendo toda a sua obra em terras alencarinas.
Prezado leitor, assim espero ter
atingido o meu objetivo, prestar uma singela homenagem a incontáveis
nordestinos que honram as letras brasileiras desde a mais remota manifestação
do gênero.
Geraldo Bezerra da Silva – Médico e
Escritor, membro fundador da
Academia
Cearense de Médicos Escritores
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