Veículo: Blog do Eliomar Data: 02/11/13 Tipo de mídia: Internet Link:
Ex-dirigente do Dnocs diz que órgão nunca concordou com alto volume do Castanhão
Em carta aberta ao jornalista Edilton Saldanha, do Dnocs, o ex-dirigente do órgão, engenheiro Cassio Borges, esclarece assuntos referentes ao Castanhão. Confira:
Por motivo de viagem, só agora tomei conhecimento do e-mail que V.Sa. enviou para o Blog do distinto jornalista Eliomar de Lima. Aliás, não apenas um, mas dois. Sobre os assuntos dos mesmos, até que gostaria de ter uma resposta aos meus questionamentos sobre a Barragem do Castanhão dito por um engenheiro especialista em recursos hídricos, aí a discussão ficaria num nível profissional mais equilibrado. Repito: “um engenheiro especialista em recursos hídricos” que tenha no seu currículo profissional a Cadeira de Hidrologia. Depois de 28 anos que discuto este assunto “Em Defesa da Engenharia Nacional”, subtítulo de um livro que escrevi sobre a construção da Barragem do Castanhão, vem a lume a primeira contestação, infelizmente por um jornalista, sem nenhum credencial para tal . Por que só agora depois de tanto tempo? Inicialmente, gostaria de dizer ao senhor Edilton Saldanha que o DNOCS nunca apoiou a construção do referido empreendimento no seu porte alto, isto é, com 6,7 bilhões de m3. Embora, por imposições políticas e por sua competência, foi obrigado a ser o construtor da referida obra. Você quer saber se o que estou dizendo é verdade, peço-lhe ver nas páginas 42 a 45 do livro que escrevi sobre a Barragem do Castanhão sob o título SEMINARIO SOBRE O VALE DO JAGUARIBE, um evento que durou três dias para, no final, apoiar a Barragem do Castanhão, mas com apenas 1 bilhão de m3 de acumulação. E, note, os melhores técnicos do DNOCS da época estiveram presentes a essa histórica decisão.
Quero também lhe dizer e o faço em respeito aos exigentes internautas deste conceituado Blog, que sou engenheiro civil formado pelas três maiores Escolas de Engenharia do Brasil: A Escola Politécnica de Pernambuco, a Escola Nacional de Engenharia (Curso de Obras Hidráulicas) e pela Pontifícia Universidade Católica-PUC (Curso de Barragem, onde até a teoria das cascas, matemática avançada, geologia, hidráulica e hidrologia, etc, foram ministrados pelos mais renomados professores daquela época no Rio de Janeiro). As duas últimas escolas do Rio de Janeiro. Pergunto ao jornalista Edilton se ele quer que lhe envie a minha biografia e o meu currículo profissional, dos quais, modestamente, muito me orgulho.
Sobre não querer receber os meus e-mails, digo-lhe que só os envio para quem pertencem ao meu círculo de amizade, mas acho muito justo para quem não os desejem recebê-los pedir o seu cancelamento. São cerca de 1.600 web-leitores na minha lista de contato. São pessoas de dentro do DNOCS e fora dele de todo o Brasil que sempre acusam o recebimento e me estimulam a continuar a minha luta em favor do nosso Departamento e do uso racional dos recursos hídricos de nossa Região. Agora, você pedir o cancelamento do seu e-mail por intermédio do conceituado Blog do jornalista Eliomar de Lima, me pareceu o seu intuito de jogar para a plateia em busca da notoriedade. Se você sempre foi uma figura apagada no DNOCS e nunca conseguisse destacar, estas poucas “linhas da fama”, espero já o tenha satisfeito.
Sobre a Barragem do Castanhão, construída numa seção do Rio Jaguaribe já perenizada (pasme!) pelos Açudes Orós e Banabuiú, note que ele não acrescentou um só metro de perenização ao referido rio, pelo contrário, destruiu com sua bacia hidráulica cerca de 70 quilômetros já perenizados daquele rio e mais 40 quilômetros da perenização do seu afluente Riacho do Sangue. A população cearense não deve tomar conhecimento disto? Mas os meus questionamentos se restringiram ao seu exagerado porte de 6,7 bilhões de m3 de acumulação d`água, tendo deslocado, impiedosa e desnecessariamente, 15.000 pessoas residentes na cidade de Jaguaribara, seus distritos e parte de Jaguaretama. Você não sendo da área de engenharia, não tem, portanto, a competência profissional e nem o conhecimento para entender que a inclusão, inconsequente, do Açude Castanhão no planejamento do DNOCS para o vale do Rio Jaguaribe, estabelecido desde a década de 50, foi um erro imperdoável de engenharia cometido pela Secretaria de Recursos Hídricos do Estado do Ceará, como o tempo está provando. O Castanhão, na verdade, é uma obra pontual, concentradora de todo recurso hídrico do vale do Rio Jaguaribe, não servindo, nem mesmo, para atender as comunidades mais próximas ao seu redor, conforme artigo que escrevi no Jornal O Povo no dia 06 de junho último sob o título “AÇUDE CASTANHÃO: COMO UTILIZÁ-LO”.
Para não me estender demais com este comentário, só gostaria de acrescentar que,caso o Açude Castanhão tivesse sido construído com 1,2 bilhão de m3, ele estaria, com absoluta certeza, reforçando, atualmente, o abastecimento de água da Região Metropolitana de Fortaleza-RMF. Aliás, eu diria, para que isso fique bem entendido, se realmente esta necessidade de água na RMF já estivesse sendo sentida nos dias atuais, mesmo se o referido reservatório ainda não existisse, o Açude Orós, sem dúvida, faria este papel, como o fez em 1993 no terceiro ano de seca no nosso Estado. Digo “terceiro ano de seca”, porque neste inicio do mês de novembro não estamos, sequer, no segundo ano completo que este fenômeno atinge o nosso Estado em toda a sua extensão. Portanto, esta estória que o Açude Castanhão está “salvando” Fortaleza é mais uma enganosa propaganda dos seus promotores e defensores que fazem dele autopromoção pessoal para defender e manter suas posições nos altos escalões de Brasília, para onde foram e ainda estão encastelados, conspirando contra a existência do DNOCS. Pergunto: Você acha justo que a Barragem do Castanhão tenha sido construída tão somente para ser usada apenas uma vez a cada dez anos? Veja que essa obra foi concluída em dezembro de 2003 e, só agora, depois de dez anos, ela veio dar o ar de sua graça. O gigante Castanhão estava adormecido em berço esplêndido, com pouquíssimo uso, levando em conta o seu exagerado porte de acumulação e seu elevado custo de construção.
Senhor jornalista, você até bem pouco tempo era funcionário administrativo do DNOCS, não é verdade? Você se lembra do pedido que me fez quando estive uma vez no seu setor de trabalho, há cerca de dois ou três anos e ao se apresentar a mim, como jornalista, manifestou o seu desejo em ir trabalhar no setor de comunicação daquele Órgão? Mas deixando este assunto de lado, não quero nem de leve falar nesta possibilidade, mas se quiser saber o que é, e o que será no futuro, o Açude Castanhão, como ele foi inconsequentemente concebido, a população cearense verá, ou melhor, irá sentir, se o próximo ano for mais um ano de seca no nosso Estado. Vamos ter um mar de água acumulado nesse reservatório, enquanto a população interiorana vai sofrer as consequências da falta de água até mesmo para saciar a sua sede. Que Deus nos livre se voltarmos a ver este tenebroso quadro nos sertões cearenses. Vamos todos rezar para que isto não aconteça. Sim, vamos rezar!
Aliás, não podemos esquecer que, recentemente, tivemos três anos seguidos de seca, 1991, 1992 e 1993 e é bom termos isto em mente para evitar situações mais catastróficas, pois já tivemos períodos críticos de cinco e até sete anos seguidos de chuvas abaixo e em torno da média histórica.
Quanto ao que você disse que “o pessoal do DNOCS não lê o que escrevo”, posso mostrar a você e a quem quer que seja, os e-mails de apoio que tenho recebido de técnicos do DNOCS, inclusive da competente engenheira Zita Timbó (nome do maior destaque e respeito do nosso Departamento) e do engenheiro Getúlio Maia, ambos os construtores da referida obra, sem dúvida, um belo monumento de engenharia, embora com erros da engenharia de recursos hídricos de origem, que os referidos profissionais não tiveram responsabilidade, pois a construíram com louvor do ponto de vista da construção de obras hidráulicas. Ambos merecem os meus parabéns, bem como o próprio DNOCS. Uma coisa é a obra em si, a outra é a finalidade e os objetivos para os quais ela foi construída. Ainda em referência ao pessoal do DNOCS, você estava presente em novembro (ou dezembro?) do ano passado quando, numa Audiência Pública na Câmara dos Deputados, em Brasília, fui convocado para fazer um pronunciamento em favor do DNOCS. Até que ocupei mais tempo do que o Deputado Eudes Xavier, que presidia aquele encontro, me concedeu. Durante a minha fala, os mais de 100 funcionários do DNOCS, ali presentes, me interromperam várias vezes com aplausos, num inconteste apoio ao que estava dizendo. Para mim, dou este assunto por encerrado.
Cássio Borges, engenheiro
Resposta(s) para “Ex-dirigente do Dnocs diz que órgão nunca concordou com alto volume do Castanhão”
Dr. Cassio Borges, agradeço o seu tempo precioso dispensado para me fazer cada vez mais informado, através de um veículos de comunicação tão ético, quanto honesto é o Blog do Eliomar. Pelo amor que o senhor deve ter a Deus, ignore esse ser, Edilton Saldanha, que não merece sua atenção, nem a de nosotros.
Sr. Cássio, sou morador de Jaguaretama, uma das cidades atingidas pela construção do açude Castanhão. E, hje, vivemos um grande problema, escassez de água. Mesmo, vivendo as margens do Castanhão. Concordo com o Sr, o volume da barragem, giganesco, não propiciou melhorias para nós que moramos no entorno…
Prezadíssimo Eliomar,
Os comentários do eminentíssimo engenheiro Cássio Borges merecem, sim, toda a nossa atenção! Ele tem experiência e conhecimento de causa!
Em 2008/2009, quando cursava a Especialização em Direito Ambiental, pela Universidade de Fortaleza(Unifor), estive realizando uma aula de campo na “nova cidade de Jaguaribara”, bem como, visitei o Açude Castanhão e até participei de uma palestra no local, onde foi exposta toda a “Obra Castanhão” e seus ” benefícios à população” como um todo.
O que eu pude perceber, realmente, até porque, para a disciplina cursada, necessitaríamos realizar um “Relatório”, foi o descontentamento da parte de alguns moradores mais idosos acerca do deslocamento da população atingida à nova cidade que, embora bem projetada, apresentava alguns problemas sociais: esses moradores não conseguiram readaptar-se à nova localidade e sentiam “saudades” da terra antiga. E quem pode controlar o sentimento das pessoas, hein??
Hoje, quando as autoridades afirmam que existe “água no Castanhão suficiente para garantir o abastecimento de Fortaleza” eu fico me perguntando se realmente isso será possível… Até já lí uma notícia em algum jornal local que, com o rebaixamento do nível do reservatório, devido à ausência de chuvas, já é possível visualizar as ruínas da antiga Jaguaribara submersa pelo “majestoso Castanhão”.
E persistindo a dúvida, prezado blogueiro Eliomar de Lima, eu ainda mantenho,para o caso de um futuro “racionamento de água” aqui na minha casinha, do meu querido bairro José de Alencar, as minhas antigas caixas d´água que eu usava quando da falta d´água aqui no bairro, por dois anos e meio, que você tão gentilmente e solidariamente divulgava em seu Blog, o mais querido de todos os internautas cearenses!
Eu gostaria que as águas do Castanhão fossem plenamente “democráticas” e chegassem aos cidadãos e cidadãs que padecem com a Seca! E não somente aos privilegiados que somos nós, Fortalezenses!
A ÁGUA É ESSENCIAL À VIDA HUMANA!!!
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