MAGOAS
Somos seres de mágoas.
Todos nós fomos, algumas vezes, magoados, bem como magoamos também.
Não temos imunidade ‘magoal’(desculpe o neologismo)
Conforme a ocasião, o tom ou a aspereza, talvez tenhamos ficado ressentidos ou melindrados.
Mágoas só se concretizam, quando doem no coração e estressam a mente. Elas correm um espaço entre a boca e os ouvidos, entre atitudes e gestos e os olhos. Elas se assentam ou se vão, qual passeio em praças. Mas nunca sem produzir algum resultado.
Mágoas nem sempre são ofensas. Mágoas magoam. Ofensas ofendem. Mágoas, mágoas e mágoas.
O sentimento de ser magoado provoca várias reações, quais sejam tristeza, amargura, decepção e, às vezes, rancor e ira. Há, porém, situações em que não devemos temer magoar alguém de nosso convívio amical ou íntimo. Não se pode fantasiar uma amizade, nem mentir para ser agradável. Tal atitude revela-se falsidade e corrói um relacionamento ou aliena mentes e manipula sentimentos e emoções.
Críticas magoam, sim, porém, fazem parte da convivência humana. É momento de ‘olhar-se’, com zelo e imparcialidade e de treinar paciência e tolerância, fazendo-se ocasião de crescimento interior e de fortalecimento da autoestima e não inflar a ‘egoestima’.
A vida tem disso, sim, senhor.
Quanto mais intensa a mágoa se arraigar em nós, provocando até somatizações e depressão, mais nos tem a ensinar. Ela traz consigo o diagnóstico e, ao mesmo tempo, o caminho da cura; não que seja sempre verdadeiro seu ordenamento. Mágoa sentida, melindrosamente, intensa foi merecida, é ponta do iceberg do egoísmo, da vaidade, da autossuficiência, da ‘perfeição’ e da carência de autoestima. E, em geral, mostra uma sensibilidade autógena exacerbada e inexistente, quando se trata de magoar o outro.
Ninguém pode ensinar ninguém a gerenciar suas mágoas, pode, todavia, sugerir estratégias e divisar rumos. No entanto, o gerenciamento é um cuidado, inexoravelmente, pessoal, segundo princípios, valores e crença desposados.
Viver de máscaras é querer entranhar-se num perene carnaval, iludindo-se com seus próprios inservíveis devaneios e desconhecendo suas virtudes.
Querer viver sem mágoas é alimentar seus medos, sua arrogância, vitimizar-se e, enfim, adentrar sua bolha de ‘infelicidade’.
Cícero nos exorta que há um só momento em que não devemos temer magoar um amigo: é quando devemos mostrar-lhe nossa lealdade, dizendo-lhe a verdade. E quem se nega a ouvir a verdade de um amigo jamais fará amigos verdadeiros.
Ser tolerante não significa ser cúmplice de erros, porém ser omisso com receio de perder um amigo ou fazer um inimigo é atirar-se nos braços de Moloc.
Mágoa não tratada vira pesadelo cativo.
Somos dois, intrinsecamente, em um.
Envelhecemos os dois em um. Porém, há uma diferença na dinâmica interativa do envelhecer.
O corpo, em suas dimensões biológicas, vai minando suas forças, após um período bastante ativo e energético: surgem as cãs, a pele enruga, as articulações teimam em se dobrar, fazendo-se sentir as dores do desgaste temporal. Esse fenômeno atinge todos os seres vivos: nenhum escapa. Não adianta tentar fugir dessa carruagem que nos vai levando, às mãos do tempo. São implacáveis nos seus dias, porém, humildes e acolhedora de nossos passos, de nossos ‘acenos’ e de nossas inclementes limitações insurgentes.
No entanto, há um outro envelhecer a interagir, mais fortemente, e a comandar tal inexorável cavalgar do tempo: é a nossa mente, a sede de nosso espírito, a alma, que nos faz viventes. Esse ‘pedaço’ fundamental da criatura humana, quando cede, aleatoriamente, às intempéries do envelhecimento, ao invés de amadurecer, maltrata o corpo, destrona a vida e cacareja quaisquer sintomas ou os cria, apenas para se divertir, maliciosamente, xexelento, com suas chatices e insuportáveis caturrices.
Pilotos, em nossa cabine de comando, escolhemos o caminho, determinamos o rumo, selecionamos os instrumentos, elegemos nosso copiloto, porém, o manete é nosso: competência, segurança, eficiência. Nem sempre o céu é de brigadeiro e somente os covardes desistem de enfrentar os cumulus-nimbos e por eles deixam-se (es)tragar.
A fé, que nos garante o amanhecer de uma noite de sono, ladeia-nos toda a caminhada, assegura-nos o foco da vida, supera as dúvidas e corrige nossas rotas. Da maneira como nós assentimos acolhê-la.
Envelhecer, enfim, supera todos os conceitos, preconceitos e filosofias. Ele é um tributo inevitável à juventude, que cada pessoa viveu e um agradecimento à vida, como foi vivida por cada um de nós.
E, dos tantos ‘adeus’, envelhecer é o último até que a irmã terra nos transmude para outra dimensão esperada por muitos, ignota para outros e ainda ignorada ou inexistente para certos viveres.
Meu amigo Marrier, cronista de bom quilate, escreve com acerto; “As pernas levam o corpo, a mente coordena a marcha, a fé sempre será curativa, nas graças do PAI”.
Quem não conhece a história de Neimar de Barros autor do best-seller ‘Deus Negro’?
Neimar, um produtor de TV da equipe de Sílvio Santos, era ateu.
Criou muitos programas de sucesso, entre os quais ‘Boa noite, Cinderela’.
Pois bem, ele costumava desafiar a Igreja Católica e, em 1971 foi convidado para participar de um cursilho, uma vez que ele ‘queria ver para decidir-se a crer’. Ao final desse encontro católico, emocionado, ajoelhou-se diante da Eucaristia, convertendo-se ao Catolicismo. Pela sua liderança, fez-se missionário, granjeou respeito e confiabilidade do clero e começou a realizar palestras e conferências em todo o território. Escreveu o livro ‘Deus Negro’, que, bastante difundido, se tornou um best-seller.
No ano de 1986, porém, deu uma guinada: em entrevista à revista ‘Veja’, revelou que sua conversão tinha sido uma farsa. Como infiltrado, ele tinha estado ‘católico’ para denunciar ‘podres e falcatruas’ do clero. Surpreendeu a todos os que o admiravam e fez diversos escritos, tentando denegrir os pilares católicos.
Esse fato leva-nos a refletir que, mesmo no tempo de Jesus, um de seus apóstolos, Judas Iscariotes, O traiu. Judas lograva o status de apóstolo, de bispo, de pastor. O mal, na sua astúcia e sutileza, esgueira-se por qualquer espaço e infiltra-se em qualquer ambiente. E, quando contamina solo sagrado, sequestra o caminho do céu de muitos cristãos. Mas, nunca prevalecerá.
Conta-se que, certa vez, Napoleão, indignado com a resistência da Igreja Católica a suas ameaças, teria dito ao Cardeal Ercole Consalvi, secretário de Estado do Papa Pio VII:
- Vou destruir a vossa Igreja.
Ao que replicou o Cardeal:
- É impossível, nem nós conseguimos fazê-lo. Se milhares de pecadores, dentro da Igreja, nunca a conseguiram destruir, como é que alguém de fora vai destruí-la?
Noutra oportunidade, Napoleão teria tomado uma taça e, incontinenti, jogou-a, com toda a força de sua ira, contra a parede, dizendo:
- Vou destruir a Vossa Igreja, como o faço com esta taça.
A taça atingiu a parede e tombou ao solo intacta.
Pastores há, que pregam a si mesmos, levados pela ambição, pelo orgulho e pelo brilho de suas opiniões. Podem desencaminhar muitos, todavia, não destruirão a Igreja.
A esses Pastores, ‘não convêm o desejo de grandeza, nem a presunção da vaidade, mas, diz o Senhor “quanto ao entendimento, não sejam crianças, mas homens feitos” e acrescentou: “quanto à malícia, porém, sejam sempre crianças”’ (Agostinho, citando 1Cor 14,20).
Não há melhor e mais atual exortação que esta: “Convertei-vos e crede no Evangelho.”
VITA IPSA BREVIS, AETERNITAS LONGA!
Lágrimas, que não caem ao solo,
Ficam presas no coração,
Mantêm-se reféns da razão
Lágrimas não são gotas vazias,
Portadoras que são
Polímatas ou toscas emoções,
Sentimentos, intrusos e ceifados,
Alegria e tristeza,
Sorrisos e choro.
Dor e amor que a saudade cresce.
E, se tombam ao solo,
Um fio de esperança.
Se não o tocam,
Borbulham no coração,
Fervem o corpo inteiro:
Não enlevo, nem deleite,
Não irrigam margens,
Aprisionam o coração,
E arreliam a mente.
Assim como, na infância,
Mandavam-nos engolir o choro,
Nós o fazemos, livremente,
Com lágrimas magoadas
Sofridas de traição,
Depressivas do infortúnio
Molhadas de dor.
Cada gota retraída é pingo sofredor,
Porém, se é acolhida, oceano de amor.
Meu plantio
Amanheceu.
Lá, meus sonhos plantei,
Sem muita dor,
Sem muito ardor,
Sem medo do temor.
Entardeceu.
Ali, regar e cuidar,
Na calidez do sol,
No rigor da chuva,
No seio da terra.
Predadores à espreita,
Desafios enfrentei,
Amores cultivei,
Sofreres eu passei.
Porém a escolha fiz eu.
Diuturnamente,
Atenção e carinho,
Reavivando os sonhos,
Fortalecendo-lhes raízes,
Coragem, fé e determinação.
Anoiteceu,
Cá, meu celeiro aprontado,
Hora tangível da colheita
O que com carinho cultivei
Dos sonhos que, ao amanhecer, sonhei.
Cantos de lá ecoam de cá,
Vivas de ganhos,
Gritos de perdas,
Aleluias de alegria,
Ou ‘de profundis’, desforrtúnio.
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