Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

CÂMBIO E TROPEÇO DIPLOMÁTICO “-, 3/12/19. Rui Martinho Rodrigues.

CÂMBIO E TROPEÇO DIPLOMÁTICO
“Ortodoxia econômica” e “consenso de Washington” são pseudônimos do realismo econômico. As dez regras do consenso aludido se resumem em equilíbrio fiscal, câmbio flutuante e outras medidas coadjuvantes destas. O seu fundamento é uma Antropologia Filosófica que reconhece o egoísmo humano. Adam Smith (1723 – 1790) não era economista, mas filósofo dedicado ao estudo da Filosofia dos valores, tendo escrito a obra Teoria dos sentimentos morais. Compreendeu a econômica por ter entendido o homem. A chamada ortodoxia econômica acrescenta um ingrediente: a realidade não pode ser burlada. Os artifícios podem obter sucesso por algum tempo. Mas fracassam.
Realismo cambial é câmbio flutuante. Quando as transações internacionais são desfavoráveis a moeda nacional tende a se desvalorizar, estimula exportações e desestimula importações, invertendo a tendência. A atração de investidores externos influencia a cotação da moeda. A inflação interna também. O conjunto de fatores, porém, não é permeável às boas ou más intenções se as variáeis citadas não forem modificadas. Inflação é aumento dos meios de pagamentos e de sua velocidade de circulação em maior proporção do que os bens e serviços. Isso vem do déficit público, emissões, crédito escancarado e acidentalidades que ocasionam escassez e mais uns poucos fatores.
Hoje temos a inflação mais baixa dos últimos vinte e um anos e uma tendência para reequilibrar as contas públicas. A queda e o viés de baixa dos juros tornaram a especulação financeira menos atraente. O capital especulativo perdeu o interesse e está indo embora. O erário está fazendo uma enorme economia com os juros baixos. Quem vociferava contra os especuladores e contra as despesas financeira não deveria achar ruim. A saída do capital especulativo contribuiu, juntamente com fatores externos, como a guerra comercial entre EUA e China, para a desvalorização cambial da nossa moeda.
O valor das nossas exportações tornou-se menor no comércio internacional e maior para os nossos exportadores. Cresceram as exportaçoes de alguns bens, como era de se esperar, conforme a Antropologia Filosófica aludida. Bens cuja elasticidade da oferta é pequena tendem a se tornar escassos em tal situação, como é o caso da carne. A peste suína que acomete o rebanho chinês é um dos fatores externos a influenciar o preço, nas transações internacionais, da proteina animal. A peste mencionada passará e o rebanho chinês será recomposto depois de um longo temo. A fuga do capital especulativo poderá ser compensada pela atração de capital produtivo. Mas isso exigiria a supressão dos entraves às concessões na área de infraestrutura, como aeroportos, portos, rodovias, ferrovias; a superação das dificuldades para a realização de empreendimento; da burocracia e da insegurança jurídica. Estes fatores afastam os investidores.
As encomendas de máquinas e equipamentos estão crescendo muito além do esperado. A construção civil também está se reaquecendo. O desemprego decresce lentamente, mas antes do esperado. Sinais tão animadores de recuperação da economia poderão atrair o gigantesco estoque de capitais internacionais, depositados a juros negativos ou próximos de zero. Muitos outros fatores deverão ser considerados. No curto prazo, porém, é a solução possível. Tal não acontecerá de imediato e quando acontecer não produzirá resultados instantâneos. Relações internacionais influenciam tudo isso e são pragmáticas, mas não são imunes aos fatores políticos. Não compreender este aspecto poderá nos prejudicar.
Fortaleza, 3/12/19.
Rui Martinho Rodrigues.

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