Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

sexta-feira, 8 de abril de 2016

ALONSO ROCHA - PRÍNCIPE DOS POETAS DO PARÁ

ALONSO ROCHA - PRÍNCIPE DOS POETAS DO PARÁ


Alonso Rocha, falece em 22 de Fevereiro de 2011



Se tivessemos o poder de prolongar a vida do corpo físico de quem quisessemos, Alonso Rocha certamente estaria entre os nomes que desejamos. Mas, somos mortais, e assim mesmo, quando nos encantamos com versos tão soberbos como os de Alonso, mesmo que não presente em corpo físico, seu espírito estará sempre imortal dentro de nós. Este poeta-trovador se indagava em sua trova: Sem resposta que conforte,
dúvida imensa me corta:
Qual o segredo da morte?
Fim? Partida? Porto? Porta?

Fim? Não existe fim para alguém que escreve versos tão sublimes. Serás sempre imortal.
Partida? Apenas deste plano físico, pois onde vais é apenas o repouso merecido pelo que fez.
Porto? Voce, caro poeta, era o porto de nossas almas, de nossas emoções.
Porta? Para ti, uma porta em direção a um andar superior onde observarás a nós que o reverenciamos, e que perpetuaremos seus versos e sua pessoa.

Eu te saudo pelo legado que nos deixou. Salve, Alonso Rocha!
                                    (José Feldman)

Caderno de Trovas


A igreja, as flores e o eleito,
ela de branco e eu tristonho;
foi o cenário perfeito
para o enterro de meu sonho. 


Ao lembrar que o teu brinquedo
é decifrar-me, sorrio…
– De nada vale o segredo
de um velho cofre vazio.


Dei conforto em hora aguda
a tantos (que nem mais sei),
mas na dor só tive ajuda
de mãos que nunca ajudei.


De uma paixão incontida,
o tempo – insano juiz -
pode curar a ferida
mas nos deixa a cicatriz.


Em sofrer minha alma insiste
mesmo sabendo, também,
que a dor da espera é mais triste
se não se espera ninguém.


Quem se julga eterno herdeiro
de um mundo farto e bizarro,
esquece que Deus – o Oleiro –
cobra o retorno do barro.


Não desistas nem te dobres
se o teu trabalho é perdido,
pois nos garimpos dos pobres
há sempre um veio escondido.


Nas manhãs, num velho rito
(com o fim de protegê-las)
o Sol – pastor do infinito -
guarda o rebanho de estrelas.


O Tempo em constante jogo,
renova a festa pagã
quando o Sol – centauro de fogo -
rasga as vestes da manhã.


Por esse amor insensato
eu sei que o céu me condena,
mas a escolha do meu ato
eu troco por qualquer pena.


Por que tanto preconceito,
cobiça, orgulho e ambição,
se os homens só têm direito
a sete palmos do chão?


Quando já idoso e grisalho
te abraças numa paixão,
o tempo é o roto espantalho
que te afugenta a razão.


Quando o sofrer é infinito
e a vida nos deixa a sós,
ao sufocarmos o grito,
grita o silêncio por nós.


Se em noite de Lua cheia
rolas em doce arrepio,
de certo um boto vagueia
na preamar de teu cio.


Sempre que eu sonho na vida
sou, numa luta sem jaça,
borboleta enlouquecida
batendo contra a vidraça.


Sem resposta que conforte,
dúvida imensa me corta:
Qual o segredo da morte?
Fim? Partida? Porto? Porta?


Sobra do amor, rarefeita,
e tudo o que me restou,
a ternura é a flor que enfeita
o jarro triste que eu sou.


Tu partiste: em penitência,
sem pranto que me conforte,
eu sinto na dor da ausência
tua presença mais forte.

2 SONETOS

 À MESMA FLOR
               Alonso Rocha

Quando moço roubei na madrugada
do seio de uma flor recém-aberta
uma gota de orvalho e como oferta
a deixei em teus lábios, abrigada.


Hoje, quando recordo (Oh! Doce Amada!)
esse tempo de arroubo e descoberta
uma saudade, trêmula, desperta
e vem sangrar-me com a sua espada.


Iguais a flor, também envelhecemos
mas ao despetalar ainda trazemos
almas unidas, mãos entrelaçadas,


porque do amor a essência mais preciosa
( assim como o perfume de uma rosa)
permanece nas pétalas secadas.

À JOVEM ESPOSA
                      Alonso Rocha

Hoje eu te trago, em minhas mãos, guardada,
a gota d’água – a pérola serena –
que eu roubei de uma pálida açucena
recém-aberta pela madrugada.


Louco poeta que sou! (Oh! Doce Amada!)
Em trazer-te essa dádiva pequena.
Culpa as estrelas, culpa a cantilena
do vento. E em nossa alcova penumbrada


dormes. E nem percebes no teu sono
que em teus lábios, fechados, abandono
a lágrima de luz – um mundo pleno.


Não despertes, ririas certamente
se me visses beijando, ingenuamente,
tua boca molhada de sereno.


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Fontes:
Portal dos Sonhos e das Poesias
Falando de Trova 

UBT Nacional


http://www.revistamaisfoco.com.br/blogs/chicomiguel

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