Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

domingo, 13 de janeiro de 2013

Morar em São Paulo


Morar  em São Paulo
                                                                      
                                       por Alfredo Bonessi

O cabra pra mora  em São Paulo
Não basta ser macho não
Some o sexo, some os desejos
Ninguém acha nem com as mãos
 Todo mundo é  se escapando
Na maior da confusão
É avião raspando os prédios
Num tremendo barulhão

É luxo pra todo lado
Roupas finas, jóias caras
Comida não farta não
Carro importado e do ano
Tudo é muito luxão
Lá se compra de  tudo
No aperto e no empurrão   
Sem saí um palavrão

O sol  é muito vermelho
Se põe  queimando as  estrelas
O frio se gruda  nos ossos
 Não esquenta a chuva  fina
Que não respeita  ninguém
Encharca  até as   granfinas
Em seus casacos da moda
Calça jeans e de botinas

O povo  acorda bem cedo
Sai alegre e  bem faceiro
Toda a gente é educada
Para responder nas alturas
Andam bem  ligeirinho
Sem perder a compostura
Ninguém conhece ninguém
Nem mesmo da mesma rua



O Brasil é São Paulo
São Paulo é o mundo inteiro
Por nós  é reconhecido
Como mundo financeiro
O povo parece formiga
Cruzando num formigueiro
Andando pra lá, pra cá
Correndo atrás do dinheiro


Pra mim que sou matuto
Não tem muita vorta não
Não posso sobreviver
 Em  tanta competição
É bem melhor o  sertão
Porque lá sou  bem querido
Sou famoso,  cabra macho
Por todos  reconhecido

Gosto de pisar  bem  firme
No chão onde me criei
Nas serras  onde  passei
Cuidar  gado em pastoreios
Sentir o perfume alheio
Das moças que namorei
Das mulheres que amei
Debaixo dos juazeiros

No sertão tem sempre festa
Nos pagodes, nos terreiros
Com prendas dos fazendeiros
Todas alegres,  charmosas
Como pétalas de rosas
Em buquês bem perfumados
Com muito  laço de fita
Nos cabelos amarrados

A poeira levanta alto
O compasso bem marcado
Todo mundo arrumado
Com as   belezas do sertão
Que mexe no o coração
Dos cabras machos, machudos
De homem e de véio  sisudo
Não se espera riso não


A faca está sempre pronta
Por debaixo das camisas
Afiada e pronta pra briga
Numa bainha enfiada
Pra entrá  num derrepente
Em buchadas, nas brigadas
Ou pra  sangrá  bicharada
Que engorda na invernada


Todo mundo se respeita
Ninguém é mais  macho não
Não se usa o coração
Para nada nesse mundo
Não se chora, não se lamenta
Não importa o assunto
Até mesmo por defunto
Lágrimas não corre não

A dor se guenta calado
Como curtindo o pesar
E quando vê o outro ganhar
Faz de conta  que é nada
Pois na curva  da estrada
O rifle pega  cantando
As balas saem  assobiando
Seu funesto  linguajar


O dia começa e  termina
Como se fosse um desmaio
O homem senhor de   tudo
Mas não pode  com a sina
Que tem por rotina a morte  
Todos os dias nas malhadas
Ou correndo as vaquejadas
Em busca de alguma sorte





O sertão tem cheiro próprio
E encanta qualquer um
Dá saudade,  dá amor
Ninguém  vive longe dele
Eu por aqui vou  ficando
Até quando Deus permita
Com  minha  prenda bonita
Em seus braços, nos amando



Tudo termina na vida
Tudo na vida tem fim
Continuem os versos pra mim
Adepois começo de novo
Só sobra o tempo ferrenho
De trabaiá nos engenho
Tão logo tempo eu tenho
Vorto  a conversar com meu povo.

Alfredo Bonessi

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