Na Hipocrisia do mundo você se descobre,
e, se encontra, quando vive um grande amor
Vicente Alencar

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

MEU TEXTO


MEU TEXTO

Arrivederci Roma
Depois de um giro de 30 dias, saindo de Roma, e passando por Nápoles, Pompéia, Berlim, Paris, Bruges e Romênia, estava de volta à Cidade Eterna com a minha filha, Jana, e meu genro, Dani. O dia era 5 de maio de 2011, o último de uma longa e inesquecível viagem pelo Velho Mundo. Resolvemos passá-lo na Villa Borghese, mais especificamente no Museo Borghese. Chegamos de metrô e adentramos a Villa pela magnífica Porta Pinciana, que fica no final da Via Veneto.
A referida Villa, refúgio das barulhentas ruas de Roma, é um imenso parque público de seis quilômetros de circunferência e possui museus, galerias, academias, zoológico, fontes, templos, estátuas etc. A história da Villa remonta ao século XVII quando, em 1605, o Cardeal Scipione Borghese, sobrinho do Papa Paulo V, transformou em parque, uma antiga vinha. No inicio do século XIX, o príncipe Camillo Borghese reuniu a coleção de arte da família, no Casino Borghese, hoje galeria e museu. A coleção de esculturas ocupa todo o andar térreo (Museo Borghese) e a coleção de quadros fica no andar superior (Galleria Borghese).
Depois de uma agradável caminhada pela Vialle Galeria Borghese, margeada por magníficos ciprestes, chegamos ao predio do museu. A bela construção alberga uma fantástica coleção de esculturas de Gian Lorenzo Bernini como: Apolo e Dafne; Davi; O Rapto de Proserpina; Eneias, Anquises e Ascânio e Hermafrodita adormecido, além de pinturas de Caravaggio, Raphael e Ticiano. Porém, o ponto alto do museu é a estonteante escultura de Pauline Borghese, irmã de Napoleão Bonaparte. Entre 1805 e 1808, Pauline pousou semin ua, como Vênus, para o escultor Antonio Canova. Seu marido, Camillo Borghese, enciumado, escondeu a obra de arte até de Canova. Por ironia, hoje, milhares de turistas do mundo inteiro derramam olhares concupiscentes nesta bela deidade.
O Rapto de Proserpina é para mim a mais incrível escultura de Bernini. Os corpos entrelaçados de Plutão e Proserpina com os dedos de Plutão penetrando nas carnes viçosas da amada me deixou perplexa, diante de tanta técnica e habilidade com o duro mármore. A lenda grega de Hades raptando Perséfone para as profundezas da terra, por tê-lo encantado com sua beleza, foi traduzida na cultura romana como o Ra pto de Proserpina, por Plutão. Reza a lenda que Deméter, deusa das colheitas, mãe de Perséfone, ficou tão enfurecida por Hades ter raptado sua filha que castigou o mundo, destruindo suas plantações. Zeus interveio e Hades aceitou que Perséfone passasse a metade do ano com sua mãe. Assim, durante o verão e a primavera ela ficava com sua mãe e, no inverno e outono, épocas sem colheitas, com Hades.
Na escultura Eneias, Anquise e Ascânio, Bernini descreve a continuidade da vida, representando três gerações. Eneias, fugindo de Tróia, carrega nos ombros seu pai, Anquise, e, ao seu lado, o filho, Ascânio. Em Apolo e Dafne, Bernini nos mostra o desespero da ninfa Dafne tentando fugir de Apolo, no momento em que ela se transforma em um loureiro. Reza a lenda que Apolo, deus do Olimpo, com sua arrogância e seu arco de prata, irritou o Cupido que lançou duas flechas, uma de amor, em Apolo, e a outra que afastava o amor, em Dafne. Apolo, doente de amor, começou o assédio sobre Dafne que correu desesperada pela floresta. Com ajuda de seu pai, Dafne foi transformada em uma árvore. Alucinado, Apolo se agarrou à mesma, chorando e dizendo que os ramos do loureiro sempre o acompanhariam, em sua coroa, em seus eternos triunfos. Por isso, nos Jogos Olímpicos, estes ramos adornam as cabeças dos atletas vencedores.
Diante dos bustos dos césares romanos lembrei-me do Rose e de seu método mnemônico de associar os nomes dos imperadores romanos aos dos 12 pares cranianos. No andar superior, apreciamos a obra-prima de Ticiano, Amor Sagrado e Profano, entre outras obras de Rubens, Cranach, Caravaggio e Raphael. Saímos do museu e fizemos um tour pela imensa Villa apreciando as fontes, as estátuas neoclássicas de Byron, Goethe e Victor Hugo, os templos de Diana e Faustina, mulher do imperador Antonino Pio, e o templo jônico dedicado a Esculápio, deus da medicina.
Deixamos o Villa e fomos até a Piazza di Spagna que estava repleta de turistas e de flores. Sentei-me na borda da Fontana della Bacaccia, implantada na base da bela e monumental escadaria de 135 degraus que leva à igreja Trinità dei Monti. A Fontana é obra de Bernini e foi inspirada por uma embarcação que, durante a inundação do rio Tibre, em 1598, chegou à praça. Admirei as altas casas em tons de ocre, cor típica das construções de Roma, e os turistas que faziam fila para encher suas garrafas com água da fonte, ou simplesmente tirar fotos ao lado da velha Bacaccia. Muitos indianos vendiam rosa s vermelhas e mergulhavam os bouquets nas águas da fonte para reanimá-las. Quando minha filha e meu genro retornaram das compras, pedi para tirarem minha foto diante da fonte e, assim, registrar aqueles momentos.
Finalmente, descemos a Via Condotti, cruzamos a Via del Corso e chegamos ao Restaurante Alfredo, na Piazza Augusto Imperatore, ao lado do Mausoleo Augusto. Neste tradicional restaurante, de mais de cem anos, nós nos despedimos de Roma com o famoso fettuccine all’Alfredo. A história de sucesso do restaurante começou com Douglas Fairbanks e Mary Pickford, dois famosos atores do cinema mudo, que frequentaram o restaurante durante a lua de mel passada em Roma, no começo do século XX.
Em retribuição às gentilezas dispensadas pelo dono do restaurante, o casal ofertou uma colher e um garfo de ouro maciço com uma dedicatória “Para o rei dos macarrões, Alfredo”. Muitas pessoas famosas tiveram a honra de experimentar o fettuccine com esses talheres. Apesar de não me enquadrar nesta legião, também, fui contemplada com a colher de ouro, em uma das duas vezes que lá estive com o Rose. As paredes do restaurante são revestidas de fotos de personalidades do mundo inteiro que já experimentaram o fettuccine. Admiramos Chico Buarque, Marieta Severo, Caetano, Pelé, Ava Gardner, Sofia Loren, Charlton Heston, Clark Gable, Cristina Onassis, Gina Lollobrigida, Liz Taylon, Kennedy, vários reis de diversos países etc. Reconfortados, voltamos ao nosso hotel e, baixinho, disse para mim mesma: Voltarei um dia! Arrivederti Roma!
 Ana Margarida Furtado Arruda Rosemberg
 Fortaleza, 23 de maio de 2011.

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